Blade Runner 2049 foi um fracasso comercial, mas tudo bem

Aparentemente, é oficial. Blade Runner 2049 não foi bem nas telonas. Custou 150 milhões de dólares e arrecadou até o momento, nos Estados Unidos, segundo o Box Office Mojo, apenas U$81.538,000. Nas bilheterias internacionais o resultado foi um pouco melhor, contando U$141.595,000. De acordo com o site Screen International, o título ainda reinou em 45 países, incluindo Rússia, Austrália, Alemanha e Inglaterra.

Para uma superprodução moderna, valores muito abaixo do esperado. Se apontarmos os nomes envolvidos e a vantagem de retomar uma história já mundialmente conhecida, o fracasso comercial se torna ainda mais intrigante. O que aconteceu?

Em geral o público reclamou da duração e da narrativa lenta. Contando 163 minutos, trata-se de um dos mais longos blockbusters da história recente do cinema, o que já diminuiu o número de exibições por dia. Imagine então se a versão do editor Joe Walker, com 4 horas de narrativa, tivesse sido a escolhida. Como diria um dos antigos chefões da Warner, seria um filme de duas mijadas. Walker e o diretor Denis Villeneuve pensaram em dividir a obra em duas partes, uma onde o agente K descobre sobre seu passado e outra onde encontra seu criador e faz o sacrifício que o torna tão humano quanto qualquer um de nós. Claro, as ideias foram “aposentadas”.

O filme original de Ridley Scott, de 1982, é conhecido por ter várias versões diferentes que circularam por aí em algum momento e que até hoje causam confusão. Mas, se você acha incrível a ideia de posteriormente poder ver essa tal versão de 4 horas do filme de Villeneuve, esqueça. A que foi aos cinemas é a única, segundo afirmação do próprio diretor.

Analistas de Hollywood apontaram que outra razão para o pálido resultado nas bilheterias foi por conta de a narrativa não ter elementos que atraíssem mulheres e jovens. Dados mostraram que 71% do público eram homens com uma média de idade de 25 anos. Uma história tétrica e meio que niilista também não é atrativo para o público desde a década de 1970.

Não dá para esperar que uma obra densa, melancólica, que requer um esforço de concentração por parte dos espectadores, com acentos filosóficos e existenciais, tenha o mesmo apelo de massa que ícones da cultura pop singrando em naves pelo universo em uma confortável batalha entre o bem e o mal, ou de humanos super poderosos em roupas coloridas lutando em lutas fantásticas entrecortadas por algumas piadas para quebrar a tensão.

Villeneuve falou francamente sobre o ocaso de sua última obra: “Como um cineasta, não sou arrogante. Pessoas investiram muito dinheiro no filme para me deixarem fazer algo como Blade Runner. Acreditaram em mim, me deram bastante liberdade e são amigos. Então claro que eu queria que o filme fosse um sucesso no final. É uma longa jornada, não quero que percam dinheiro”.

De modo algum a produção se tornará uma mácula na carreira dos envolvidos. Os fãs do filme original e a crítica de modo geral rasgaram elogios. Toda a equipe fez uma sequência tão fiel que rendeu praticamente a mesma reação ao filme de 1982, que também foi considerado um fracasso comercial à época, apenas conseguindo o status de que goza hoje posteriormente.