Tubular Bells – A música tema de O Exorcista

O filme O Exorcista (The Exorcist, 1973), dirigido por William Friedkin, atingiu os cinemas na época de seu lançamento como uma hecatombe nuclear que, ao invés de espalhar radiação, propagava o medo e a insanidade, com relatos de pessoas que tinham crises histéricas, desmaiavam ou vomitavam nas salas de exibição. Aquela geração e as vizinhas guardam na memória lembranças como o primeiro beijo, a primeira relação sexual e a primeira vez que viram o estranho caso da garotinha Regan MacNeil e o que ela era capaz de fazer com um crucifixo.

A obra é repleta de cenas chocantes, mas que atingem um grau mais alto ainda na escala de terror graças a uma trilha sonora intensa e horripilante por si só. Essa é uma daquelas histórias de bastidores que conta como algo hoje consagrado foi criado por uma série de acasos do destino e, principalmente, pela persistência de uma mente obcecada.

Friedkin inicialmente chamou Bernard Herrmann (responsável por, entre outros trabalhos, trilhas sonoras de Psicose e Um Corpo que Cai, de Hitchcock, e o Cidadão Kane de Orson Wells) para criar a trilha sonora de O Exorcista. Herrmann demonstrou interesse, mas os gênios do cineasta e do músico não se alinharam.

“Quando ele (Herrmann) chegou na sala de gravação falou, ‘Eu posso ser capaz de te ajudar nessa merda de filme, mas vai ter de deixar tudo comigo e veremos o que vai sair’. Já tinha ouvido falar que ele era um tipo um pouco grosso, sem meias palavras ao ponto de insultar as pessoas. Mesmo assim fiquei atordoado com sua reação”, relembra Friedkin.

Ao perguntar se o Bernard não estaria ao menos interessado em ouvir suas ideias, o diretor ouviu a resposta preferida dos velhos veteranos: “Garoto, quantos filmes você já fez? Eu estou criando música já há quarenta anos.” Friedkin nesse ponto já havia perdido o interesse na parceria, mas ainda perguntou qual seria o tipo de trilha que o músico achava que o filme deveria ter. Herrmann respondeu que imaginava usar um órgão acústico de uma determinada igreja. Nesse ponto, o diretor que também não era um sujeito muito conhecido por sua calma e pacifismo, já havia levantado as sobrancelhas. Os dois apertaram as mãos e foi isso.

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O nome famoso seguinte foi o do argentino Lalo Schifrin, cujos alguns dos maiores sucessos foram Bullitt, todos os filmes da série Dirty Harry e, futuramente, Missão Impossível. Friedkin recorda o que aconteceu: “No primeiro dia de gravações, ele marcou com uns 80 músicos tocando instrumentos elétricos. Haviam quatro ou cinco percussionistas. Não era o que eu havia pedido.” Ele puxou Schifrin de lado e explicou que aquele volume de instrumentos iria atrapalhar os efeitos sonoros e os diálogos. O compositor se recusou a mudar qualquer coisa e então o cineasta apenas balançou a cabeça e voltou à estaca zero, agora com o cronograma de lançamento ainda mais próximo.

O jeito foi apelar para umas trilhas que ele já vinha usando provisoriamente, regravando e adicionando alguns elementos para escapar dos direitos autorais. As músicas usadas em O Exorcista, especialmente as compostas pelo polonês Krzysztof Penderecki, produziram um efeito enervante, com alguns violinos a lá Psicose. Mas o cineasta ainda achava que faltava algo. Friedkin passou três dias vasculhando os arquivos da Warner na esperança de encontrar algo que soasse tipo uma canção de ninar.

“Depois de escutar e descartar tudo de várias estantes encontrei uma faixa chamada Tubular Bells, composta por Mike Oldfield, de uma gravadora nova da Inglaterra, a Virgin Records. Após a introdução, que achei assustadora, o resto da faixa era um tipo de demonstração do som feito com vários sinos. Mas a introdução era perfeita.”

Tubular Bells veio de um LP de 1973 (a era do rock progressivo), de Oldfield. O álbum consistia em duas longas faixas. A parte que entrou no filme foram os primeiros minutos do disco. Mesmo tendo sido usada em apenas uma cena do filme, Tubular Bells se tornou a faixa tema,  aquela música que penetra nos ossos dos espectadores e hoje desperta lembranças repugnantemente agradáveis nos amantes do cinema de horror.

Agora em 2017, neste último halloween, a Waxwork Records relançou a trilha sonora do filme. O disco foi remasterizado a partir das fitas originais e prensado em um vinil colorido, incluindo algumas anotações de William Friedkin no encarte.

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