Círculo Vicioso – marmitex 1980 da Shudder é refeição digna no subgênero slasher

O primeiro título revival cinema fantástico adolescente da década de 80 que me vem à mente de imediato é Super 8, lançado em 2011. Na época ninguém parece ter percebido que aquilo viraria uma bola de neve, até que veio a série Stranger Things, em 2016. 

De lá pra cá podemos lembrar do remake de IT (2017), a primeira parte, e Verão de 84 (Summer of 84, 2018) apresentando um grupo de adolescentes investigando um vizinho que suspeitam ser um serial killer. Ainda dá pra apontar o filme Super Dark Times (2017) que, tudo bem, já beirava 1993 mas ainda mantinha as características de grupo de jovens amigos em cidadezinha do interior que se deslocam em bicicletas e passam por situação sinistra.

O britânico Censor (2021) já tem uma pegada mais adulta, mostrando a atuação de uma mulher que trabalha assistindo filmes de terror para recomendações de censura, na gloriosa época dos nasty videos. De mais recente temos Paper Girls (2022), série lançada pela Amazon. Certamente após publicar esse texto lembrarei de mais meia dúzia de produções revival 1980.

Um dos que me passaram despercebidos do radar foi Círculo Vicioso (Vicious Fun, 2020), uma produção da Shudder, o streaming dedicado ao gênero terror. Joel (Evan Marsh) é um crítico cinematográfico especializado em filmes de terror que publica uma coluna numa revista chamada Vicious Fun. Fanático pelo cinema fantástico, Joel é tímido, mas arrogante, inteligente, mas emocionalmente instável.

Ele sinceramente acredita que poderia fazer filmes bem melhores que a maioria dos que escreve sobre. É apaixonado por Sarah (Alexa Rose Steele), garota com a qual divide o aluguel, mas que não tem o mínimo interesse romântico nele além de uma espécie de carinho potencializado por pena. 

Uma noite, ao vê-la chegar em casa em um carro com um estranho, tem o impulso estúpido de seguir o sujeito até um restaurante japonês. No bar, o aborda com um nome falso e tenta descobrir quem é seu rival. Leva um golpe, termina totalmente bêbado e se descobre em uma reunião secreta de psicopatas no formato de um grupo de autoajuda. Confundido com um assassino que faltou, Joel tem de criar uma história sobre ele para sobreviver nesta noite. 

A fotografia soturna mas nítida, o uso de luzes neon e a trilha sonora repleta de sintetizadores promovem a imersão na ambientação de terror dos anos 80 logo nos primeiros minutos do filme. A violência apresentada na sequência inicial indica que o longa não se esquivará de mostrar vísceras, intestinos e cenas como agulhas e bisturis penetrando globos oculares. É terror para virar a cabeça de lado, não desviar a câmera para poupar a audiência mais sensível. 

Alguns problemas pontuais de roteiro e caracterização dos personagens provocam uma perda de pontos no longa. A personalidade de Joel é uma mistura de dois tipos clássicos de perdedores, estilo personagem de Ben Stiller com Gary de O Último Americano Virgem (The Last American Virgin, 1982), provocando uma certa repulsa na audiência. Faltou ao menos um pouco de Marty McFly, o que só aparece de relance na sequência final do longa. 

Os vilões, na forma do grupo de psicopatas, sofrem por um excesso de ‘cartunização’. Boas ideias são desperdiçadas em prol de um lado cômico que deixa o tom mais infantil que o recomendado. Bob (Ari Millen), que seria o grande antagonista, emula o Patrick Bateman de Psicopata Americano (American Psycho, 2000), o que causa uma certa impressão, mas isso até também descambar para uma forma caricatural, exagerando nas caras e bocas. Fritz (Julian Richings) se traveste como um coringa Heath Ledger com fome depois de um tratamento de choque que foi além do que deveria. 

O que salva mesmo Círculo Vicioso, o mantendo com a cabeça acima da água, é a personagem de Amber Goldfarb, uma assassina que termina se voltando contra os demais. Carrie acrescenta ação ao terror e comédia que predominavam até então. No total, é um filme despretensioso que promove 90min de boa distração.

Cenas marcantes

Quer uma carona? Cena clássica dos filmes de terror. Noite alta, rua deserta, uma mulher fez as contas erradas e acabou sozinha numa cabine telefônica tentando encontrar ajuda. Daí passa um senhor insuspeitável e oferece uma carona salvadora. 

Teste de roteirista: Joel acorda bêbado nos fundos do restaurante japonês e se descobre em uma reunião de serial killers. Agora ele tem de inventar uma história para convencer que também é um matador por natureza. 

Vencendo o terror: Covarde por natureza, Joel finalmente consegue agir para salvar Carrie, confrontando Bob. 

Círculo Vicioso (Vicious Fun, 2020)
Diretor: Cody Calahan
Gênero: Terror; Comédia
Elenco: Evan Marsh; Amber Goldfarb
Duração: 1h41min