A Dança dos Vampiros – Polanski apresenta uma paródia do romance de Bram Stoker e outras lendas

Um pesquisador especialista em morcegos, o professor Abronsius (Jack McGowran), viaja até a Transilvânia na companhia de seu assistente Alfred (Roman Polanski), em busca de provas materiais da existência de vampiros. O professor carrega uma valise com crucifixos, coroas de alho e estacas de madeira para se proteger das terríveis criaturas. Na pousada onde se hospedam, a filha dos donos do local, Sarah (Sharon Tate), é atacada e raptada pelo Conde Von Krolock (Ferdy Mayne). A dupla de improváveis heróis segue para o castelo do vampiro para resgatar a jovem e acabar com o reino de terror da criatura.

O nome de Roman Polanski é associado mais comumente aos gêneros drama, suspense e terror por conta de algumas de suas obras mais aclamadas, como O Bebê de Rosemary (Rosemary’s Baby, 1968) e Tess  – Uma Lição de Vida (Tess, 1979). Porém, a comédia não é, em regra, alheia a sua filmografia. 

Em O Inquilino (Le Locataire, 1976), parte final da famosa trilogia do apartamento, há vários enxertos cômicos. Piratas (Pirates, 1986) é humor negro puro. Lua de Fel (Bitter Moon, 1992), um drama sobre relacionamento extraconjugal, habilidosamente se torna também uma comédia. 

É algo como surpreendente o mesmo cineasta capaz de entregar um suspense psicológico tétrico como Repulsa ao Sexo (Repulsion, 1965) elaborar uma comédia galhofa sendo bem-sucedido em ambos. A Dança dos Vampiros é uma espécie de paródia de Drácula de Bram Stoker, utilizando vários elementos do romance original. Há um nobre que mora em um castelo e aterroriza os moradores da região, praticamente isolada do mundo por conta do clima terrível. O professor Abronsius faz as vezes de Van Helsing. No lugar de Mirna e Jonathan Harker, temos Alfred, um inocente assistente que se apaixona pela filha do dono da estalagem, que é raptada pelo Vampiro. 

O esmero da produção impressiona. A elaboração dos cenários, das vestimentas dos personagens e maquiagem fazem com que o espectador fique submerso naquele universo. O humor é construído com a mistura de situações cotidianas banais com o sobrenatural, como o caso extraconjugal do dono da pousada com a empregada, a existência dos vampiros e seu efeito nos moradores. A pitada de galhofa se dá principalmente pelo comportamento da dupla de protagonistas, um vampirólogo sem noção que parece ter parentesco com o Dr. Chapatín, e um assistente que hora lembra o próprio Scooby Doo quando assustado. 

Outro elemento cômico usado por Polanski é a excentricidade, seja dos próprios vampiros, seja a dos habitantes da região. Sarah, apesar de viver em uma zona com inverno rigoroso, adotou o hábito de tomar banho todos os dias que adquiriu ao ter passado um tempo morando no exterior. Parece apenas um pretexto para mostrar a sensualidade de Sharon Tate. Aliás, foi durante as filmagens do longa que diretor e atriz desenvolveram um relacionamento que terminaria tragicamente por obra da família Manson. 

O objetivo do Conde Vampiro é criar um exército de mortos-vivos, dominando tudo. As pessoas sabem de sua natureza e intenções, mas estão assustadas demais para qualquer tipo de reação. A única esperança é uma dupla de patetas que acha que pode enganar e matar o mestre das trevas, isso se puderem burlar seu fiel mordomo, uma espécie de ogro gigante que vela o sono do seu patrão. O que se vê é uma sucessão de gafes e atropelos que hora lembra um filme do Buster Keaton, hora uma animação Disney, hora um episódio de Chapolin. Tem humor que fica datado, mas não apontaria esse como um dos casos. 

A cena do baile dos mortos, que justifica o título, é a grande apoteose do longa. Para comemorar o sucesso do seu plano, o Conde convoca todos os mortos-vivos que jaziam no castelo para uma grande festa na qual a jovem Sarah será definitivamente transformada em vampira. Depois de várias desventuras, Abronsius e seu apaixonado assistente se infiltram no evento e tentam resgatar a jovem, mas terminam traídos por um espelho que reflete apenas as imagens deles. 

A Dança dos Vampiros, por ter um teor predominantemente cômico, pode desagradar os fãs do terror puro, mas Polanski oferece uma ótima paródia de uma história aqui já contada no cinema um punhado de vezes, como em Drácula (1931) interpretado por Bela Lugosi e nos filmes da Hammer com Christopher Lee, iniciado com O Vampiro da Noite (Dracula, 1958).

Cenas marcantes:

O rapto: Sarah vai tomar seu segundo banho diário no quarto onde estão o professor Abronsius e seu agora apaixonado assistente, mas nesse momento o Conde Vampiro surge, morde e rapta a garota. 

O genial Abronsius: surpreendendo o espectador, o até então atrapalhado professor se mostra de fato um esperto cientista ao elaborar a fuga de uma torre onde são trancados pelo Conde Krolock.

O baile dos mortos: Todos os mortos enterrados no cemitério do castelo se levantam para o baile. A dupla de improváveis heróis se infiltra e dança entre eles, até serem descobertos graças a um enorme espelho no salão. 

A Dança dos Vampiros (Dance of the Vampires, 1967)
Diretor: Roman Polanski
Gênero: Terror; comédia
Elenco: Sharon Tate; Roman Polanski; Jack McGowran; Ferdy Mayne
Duração: 1h48min