Notas breves sobre Resident Alien e A Nova Vida de Toby

Resident Alien e A Nova Vida de Toby são, respectivamente, série e minissérie disponíveis na Star+.

Resident Alien eu já tivera contato com sua fonte de origem, a HQ criada por Peter Hogan e Steve Parkhouse editada originalmente pela Dark Horse. Por aqui algumas histórias foram publicadas em Dark Horse Apresenta, da Editora HQM, uma revista mix que funcionava como uma caixa de biscoitos sortidos só que com histórias da Dark Horse americana. 

O problema era que os títulos apresentados eram histórias curtíssimas, com continuação. Publicações mix não costumavam ser problema por aqui, mas os leitores passaram a odiar esse tipo de proposta. Achei Resident Alien interessante, mas não deu para formar uma opinião definitiva porque era curta demais. Continuaria lendo, o problema é que não comprei as edições seguintes da Dark Horse Apresenta, nem ninguém, afinal. A publicação foi cancelada. 

Já o piloto da série Resident Alien beirou o sofrível. Na história, um alienígena vem fazer uma missão na Terra mas sua espaçonave cai e ele tem de se esconder entre os humanos para conseguir concluir a tarefa a tempo. O alien assume a identidade de um médico aposentado que havia se retirado em uma cabana às margens de um lago próximo a uma cidade das montanhas. 

Acontece que, mesmo em local tão desolado, as pessoas lembram que o sujeito existe e vão lá procurar ajuda. O prefeito da cidade o convoca para fazer uma autópsia em outro médico, o do Município, encontrado morto sob circunstâncias misteriosas. Então lá vai o alienígena disfarçado interagir com os seres humanos. 

Previsivelmente a série procura ter um tom de comédia. Fazer rir em cima das gafes e erros sociais do alienígena em meio a uma comunidade moderna. Explora as emoções humanas, os afetos entre nós, reações de raiva, de amor, de felicidade e de medo. O problema é que o protagonista alien não é simpático, mas bizarro. 

Primeiro ele mata violentamente o médico para assumir a forma e vida dele. Depois quer assassinar uma criança que consegue ver através do seu disfarce. Da forma como é mostrado, como esses fatos acontecem na tela, não têm a mínima graça. 

A forma do alienígena é bizarra demais. A única coisa levemente humanoide nele é a cabeça, naquele formato que se tornou tão popular, ainda que cheia de cores. De resto parece de fato um monstro. Sob forma humana, faz caras e bocas todo o tempo, além de uns tiques estranhíssimos como um viciado em crack, meta e K9 ao mesmo tempo teriam. 

Os demais personagens também soam irritantes. O Policial que se acha fodão, a parceira esquisita dele e o prefeito tão jovem que parece o filho do vereador. Várias cenas que deveriam ser cômicas na intenção, na verdade são apenas constrangedoramente ruins. O Xerife e a ajudante estão de tocaia dentro da viatura. Ela vai ligar o rádio e ele a proíbe. Então começa a fazer beatbox e ela vai acompanhando. É tipo legal e surpreendente como o personagem de Michael Winslow fazia em Loucademia de Polícia (Police Academy, 1984)? Não!! Não é engraçado ou surpreendente, não é bacana nem criativo, é só bizarro, sem sentido e constrangedor. 

Apesar do comportamento absurdo, a enfermeira da equipe chama o Alien/Médico (interpretado na forma humana por Alan Tudyk) para ir ao bar local e ao fim já pede o favor de a acompanhar para pegar alguns objetos na casa do ex-marido, um sujeito violento que a espanca por não aceitar a separação. 

Ao final do episódio, o alienígena resolve investigar de verdade a morte do médico e aponta que ele fora envenenado e o autor é uma das pessoas presentes no enterro. Eis aí o gancho para o próximo capítulo, deixando também em aberto qual afinal é a missão do Alien. 

Não sei se vale a pena tentar mais um episódio. Muitas vezes uma série consegue corrigir os erros e melhorar ao longo da primeira temporada. Por vezes demora até mais de uma temporada. Talvez tenha sido o caso, já que o programa ganhou um terceiro ano. 

Com um gosto meio ácido na boca, parto para outro piloto. A minissérie A Nova Vida de Toby (Fleishman is in trouble, 2022)é estrelada por Jesse Eisenberg e Claire Danes (a protagonista de Homeland). Toby e Claire encerraram um casamento de 15 anos que resultou em um casal de dois filhos pequenos. Claire tem um trabalho no show business, ganha muito bem, mas não tem muito tempo livre, então sobra pra Toby vez por outra ficar com os filhos por um tempo extra. 

Recém-solteiro, fora do mercado de encontros há quase duas décadas, o cara que nunca teve uma vida sentimental e sexual movimentada na juventude agora é um médico que descobre os aplicativos de relacionamento e então explode uma fila de mulheres loucas por uma oportunidade com ele. Toby fica tão impressionado com a quantidade de ofertas que passa o final de semana inteiro hipnotizado com os matches e interações. 

Toby é um jovem médico hepatologista, mas seu corpo age como o de um adolescente nerd que ainda não saiu do colegial. Ombros encolhidos, um pouco corcunda e ainda é quase gago, inseguro. Tudo nele parece completamente oposto à sua ex-esposa. Ele poderia ao menos aparentar ser um sujeito normal, o que de fato parece ser, daí a desconexão entre o que o personagem é ou deveria ser e a interpretação que o ator fez dele parecem não combinar. 

Um ponto irritante especialmente é a narrativa de uma terceira personagem em cima do episódio, deixando pouco espaço para que a história flua por ela mesmo, sem a necessidade de alguém explicando tudo o que acontece e o que as pessoas estão sentindo. 

A série parece um pouco uma espécie de Dr. House (sem nenhuma de suas qualidades), com uma equipe de internos liderada por Toby investigando as causas da doença de uma mulher, um pouco com filme de drama de casal separado com filhos e um pouco comédia jovem adulto em busca de um novo amor temperada com sexo ocasional fornecido pela tecnologia dos aplicativos.