Guns n’ Roses – O Último dos Gigantes, por Mick Wall

Há uma série de bandas que costumo classificar como “de entrada”. Se você quer apresentar o rock/heavy metal a alguém, começa por um álbum que apresente o melhor do estilo, bandas que possuem músicas grudentas que conseguem conquistar novos fãs em segundos. O Guns ‘n Roses é uma destas “bandas de entrada”. O grupo fez muita gente cair de cabeça no universo da música pesada. Claro que, enquanto alguns nunca mais saíram, para outros foi apenas uma fase, ainda que inesquecível .

Axl Rose, Slash, Izzy Stradlin, Duff McKgan e Steven Adler de algum modo se reuniram em Los Angeles na década de 1980 e formaram uma banda que entrou para a história da música. O Guns era um conglomerado de desajustados que, quando não estavam se destruindo, tentavam compor músicas e assinar com alguma gravadora, sonhando com a grandeza e ao mesmo tempo a desprezando. Meio que no improviso as coisas foram se acertando e Appetite for Destruction ganhou o mundo, ainda que tenha precisado de um empurrão para explodir e catapultar a banda mais perigosa do mundo além de suas rivais na disputada cena hard rock de Los Angeles.

Tendo morado em uma garagem e trepado com as garotas em toca de comida e aluguel, o Guns N’ Roses agora tinha reuniões com representantes de gravadoras que falavam em quantias vertiginosas.

A fama veio e a grana também, mas os problemas pessoais dos músicos se avolumaram na mesma proporção. A personalidade forte de Axl, cheio de ataques de estrelismo, rivalidade com os demais integrantes, especialmente com Slash, com outros artistas, os longos atrasos nas apresentações e ameaças de não comparecimento tornavam um show da banda um risco em todos os sentidos. Ao mesmo tempo em que o vocalista era o que menos bebia era o membro mais instável em turnês e fora dela, se metendo em escândalos, prisões e processos judiciais.

A rivalidade com o Motley Crue, o tempestuoso casamento de Axl, a problemática gravação do Chinese Democracy, prisões, overdoses, pancadarias em bares e hotéis, shows cancelados de última hora, morte na plateia e até magia negra. Assim era o turbilhão a ser enfrentando por quem trabalhava para o grupo, como o empresário e gerente de turnês, Alan Niven e Craig Goldstein que, assim como tantos, ficaram para trás, abandonados e surrados.  Assuntos não faltam para tratar de uma banda desse porte, e Guns N’ Roses – O Último dos Gigantes não deixa passar nada.

Quando Izzy saiu do palco e entregou a guitarra ao técnico, o vocalista do Motley Crue, Vince Neil, saltou na frente dele e lhe deu um murro na cara, cortando seu lábio: represália, alegaria Vince, por uma cantada sexual que Izzy dera na nova mulher do cantor, Sharise, ex-lutadora de lama do Tropicana.

O livro aborda desde os primórdios da gênese do grupo até os eventos de 2016, quando houve a reunião de quase toda a formação original e aconteceram alguns imprevistos, como Axl quebrando a perna e deixando de lado os companheiros para substituir Brian Johnson no AC/DC em alguns shows. Ainda aborda de forma detalhada a breve vida do Velvet Revolver, uma espécie de Guns com outro vocalista, o falecido Scott Weilland, um cara com tantos problemas psicológicos quanto Axl e tão viciado em drogas quanto a antiga banda no auge. Todos os esqueletos são revirados em uma narrativa tão frenética quanto os riffs contidos no debut da banda.

O Guns N’ Roses não tratava mais de música nova; era uma banda de turnê cheia de mão de obra contratada, ganhando a vida com os eflúvios de seus discos clássicos mais antigos e algumas das faixas mais fortes do último álbum.

Essa já é a sétima biografia escrita por Mick Wall, jornalista experiente que viveu lado a lado com gigantes da música, bebendo, conversando, acompanhando turnês e entrevistando profissionalmente alguns dos maiores grupos do planeta. Em seus livros, Wall trata os personagens biografados de forma objetiva, narrando histórias que ele mesmo vivenciou, se baseando em material bibliográfico diverso, entrevistando os próprios músicos, pessoas da equipe, figuras importantes da indústria, recriando o passo a passo de eventos e decisões que formaram lendas da música em momentos de sarjeta e de glória.

Recebi um telefonema às três horas da manhã: Slash morreu na frente do elevador. Corri para fora com o Narcan. Meti no peito dele. O pessoal da emergência apareceu, levou-o, e eu e outros caras expulsamos os merdas dos traficantes de drogas.

Wall não deixa nenhuma polêmica de fora, ainda que não apele para sensacionalismo barato. Diria que vai além da imparcialidade profissional, não deixando de registrar suas próprias impressões dos acontecimentos em determinados pontos, até mesmo se situando no tempo e no espaço no decorrer das páginas, analisando ações e reações de fãs, dos músicos e da indústria. Esse toque pessoal confere mais vida à biografia, servindo como uma espécie de âncora para segurar o leitor em um universo estranho no qual deuses do show business transitam, vivem e morrem. Possui o tipo de sinceridade que não se encontra em uma obra autobiográfica ou realizada com a ajuda de um escritor fantasma.

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Guns N’ Roses –O Último dos Gigantes
Autor: Mick Wall
Editora: Globo
Nº de páginas: 402