Commando – A autobiografia de Johnny Ramone

Qualquer pessoa que nunca ouviu ao menos uma música dos Ramones na vida no mínimo já viu em algum lugar o desenho da águia segurando em uma das garras um ramo qualquer de mato (na verdade de macieira) e na outra um taco de beisebol, cercada por estrelas. Pode ter sido até na própria camisa e nunca se deu conta de que se tratava do símbolo de uma das bandas de punk rock mais famosas do mundo.

O grupo de Nova York, cujo primeiro registro oficial data de abril de 1976, fez história no mundo da música em geral até decidir por si mesma encerrar as atividades em 1996. Um fim precoce, mas estratégico, visto que a morte iria começar a levar alguns dos membros do grupo pouco tempo depois, tipo o vocalista, o baterista e o guitarrista.

Commando – A Autobiografia de Johnny Ramone, da editora Leya, conta um pouco dessa história pelo ponto de vista de John William Cummings, o guitarrista e principal cabeça do grupo. A edição possui um capricho gráfico incomum, com capa dura, papel couchê de alta gramatura e repleto de fotos, a maioria coloridas. Como extras, traz uma avaliação álbum a álbum da discografia dos Ramones pelo próprio biografado e uma lista de “os 10 mais de todos os tempos” no rock and roll, em filmes de terror, beisebol e outros.

Para a última turnê britânica de 1977, chegamos lá um dia antes e vimos os Sex Pistols em 16 de dezembro. Depois que tocaram, Johnny Rotten me perguntou o que eu achava deles, e eu disse que eram um lixo.

Em primeira pessoa, falando franca e diretamente, Johnny conta como foi de um adolescente problema que vivia aprontando nas ruas de Forest Hills, uma zona do Queens, em Nova York, praticando assaltos e atos de vandalismo, a um sujeito sóbrio que agrupou e apontou a direção certa para um grupo de desajustados.

Começamos 1978 em uma turnê com as Runaways, uma banda de sapatonas. Pelo menos umas duas eram.

O líder por falta de opção melhor dos Ramones sempre teve fama de pessoa difícil, alguém mal humorado, antissocial e pronto para socar até seus próprios colegas de banda. É natural imaginar que os integrantes de um grupo com uma identidade visual tão padronizada e no qual os músicos adotam o mesmo sobrenome sejam no mínimo amigos, mas se tratava apenas de imagem mesmo. Guitarrista e vocalista mal se suportavam. Para piorar a situação, Johnny casou com a namorada de Joey, uma das maiores sacanagens dos bastidores do rock. No livro essa situação espinhosa é falada e justificada sem nenhum rodeio.

Um cara na frente do palco começou a acenar com as mãos para cima dizendo: “Eu, Johnny, me pegue, fui eu”, e na hora que o garoto disse essas palavras, dei na cabeça dele com a guitarra. Aí o segurança agarrou-o e começou a meter porrada nele pra valer. E eu pensei: “Que merda!”

Como quem não tem muito tempo a perder, assim como as canções de menos de 3 minutos da banda, em poucas páginas Johnny fala sobre suas paixões pelo beisebol, por filmes de terror e momentos chave de sua vida, como a ocasião em que quase morreu espancado por um punk amigo de uma ex-namorada. Suas impressões sobre as pessoas também são cuspidas sem cerimônia. Revela, por exemplo, como achava Andy Warhol e seus seguidores um bando de doidos e comenta seus desentendimentos com Debbie Harry, vocalista do Blondie, banda que também tocava bastante no CBGB, famoso clube nova-iorquino.

Não creio que os fãs queiram ouvir que os caras da sua banda favorita não gostam uns dos outros. Querem acreditar que são amigos, mas essa é só uma imagem pública.

Para quem adota a ideologia punk de forma política, séria, as palavras do guitarrista da provavelmente mais famosa banda punk da história podem fazer bastante mal. Johnny depois que decidiu se ajustar na vida passou um bom tempo como trabalhador braçal. Nos Ramones, economizava o máximo que podia. Tinha como meta juntar 1 milhão de dólares e se aposentar, que foi o que fez antes dos cinquenta anos. Sempre foi questionado por sua suposta ideologia. Em uma dessas respondeu a um garoto: “Eu escrevi o livro sobre ser punk. Eu decido o que é punk. Se eu estou dirigindo um Cadillac, isso é punk”.

Os últimos relatos do guitarrista são sobre sua luta contra um câncer de próstata que terminou se espalhando por outras partes do corpo e que acabaria com sua vida. Foram anos lutando contra a doença, passando por tratamentos desgastantes e exames dolorosos. Commando é um livro de leitura rápida de um músico que tocava canções curtas em uma banda que durou pouco, mas produziu muito.

Commando – A autobiografia de Johnny Ramone
Capa dura: 178 páginas
Editora: Leya
Dimensões do produto: 23,4 x 16,4 x 1,4 cm