Músicas que encaixaram perfeitamente em cenas de filmes

O Movie Web publicou um artigo listando “10 músicas que não conseguimos ouvir sem associar a filmes”. Selecionar as músicas certas e inserir no timing preciso em uma cena é uma arte cada vez mais rara no cinema. Se não for feita corretamente, o espectador percebe no ato a tentativa de disfarçar uma obra ruim com músicas legais. 

Um dos piores exemplos de como não fazer está no primeiro Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016), obra que me fez parar de vez de assistir qualquer coisa associada à DC. Tudo bem que Nirvana no The Batman de Matt Reeves ficou bom demais, porém como de forma geral o filme vai piorando a cada 15min, nem vale a pena acrescentar na lista de bons exemplos. (Desconsiderem minha contradição). 

A música tem o poder de avivar sentimentos, acentuar emoções, ajudar a estabelecer o clima pretendido pelo cineasta. A canção certa entra na cabeça da audiência e aumenta o fator repeat. Dá aquela vontade de rever o filme ou apenas aquela cena de novo e de novo. Nos tempos do VHS isso era mais trabalhoso. Eu lembro porque estava lá. 

Vou surrupiar duas músicas da lista do Movie Web, algumas das melhores, e acrescentar outras que não são tão óbvias. Não tem ordem alguma. À medida que fui lembrando, foram entrando na fila. 

Day-O (The Banana Boat Song) em Os Fantasmas se Divertem (Beetlejuice, 1988)

Trata-se de uma canção folclórica jamaicana que fala sobre os estivadores que trabalhavam no turno noturno abastecendo navios com cargas de bananas. A versão mais famosa foi dada pelo jamaicano Harry Belafonte na década de 1950, se tornando um hit. 

No filme, a família de Lydia (Winona Ryder) está promovendo um jantar chique quando, de repente, todos são compelidos a cantar e dançar ao som de Day-O, um momento hilário e totalmente nonsense provocado pelo casal de fantasmas que assombra a casa. Ninguém se assustou. Pelo contrário, acharam divertido ‘dançar o calipso’ (não confundir com aquela nossa banda regional). 

“I’m Shipping Up to Boston” do DropKick Murphys em Os Infiltrados (The Departed, 2016)

A música “I’m Shipping Up to Boston” toca em vários momentos da película, marcando especialmente por conta da melodia feita com a ajuda de gaitas de fole que entra fácil na cabeça e faz a gente sair assobiando (mas tem de ter fôlego). 

The Power of Love do Huey Lewis & The News em De Volta Para o Futuro (Back to the Future, 1985)

Marty Mcfly (Michael J. Fox) sai atrasado do laboratório-casa do Doc Brown (Christopher Loyd) e corre para a escola via skate pegando carona em uma caminhonete, cruzando a cidade. A música ajuda a apresentar o protagonista e o local que também é praticamente um personagem, contribuindo com a impressão que se trata de um sujeito maneiro. 

Highway to the Danger Zone do Kenny Loggins em Top Gun - Ases Indomáveis (Top Gun, 1986)

O início de Top Gun começa com uma trilha incidental, vai apresentando o porta-aviões e, quando chega o momento da decolagem, Highway to the Danger Zone injeta a adrenalina no espectador. Não foi à toa que Tom Cruise quis colocar a mesma música na sequência Maverick e ainda declinou da proposta da banda de modernizar a canção, mais uma de uma série de decisões acertadas do ator. 

Extreme Ways do American electronica musician Moby na franquia Bourne

Finalizando o filme, nosso herói parece ter morrido afogado quando, de repente, soa uma espécie de alarme, começar a rolar a Extreme Ways e Bourne desperta nadando para destino desconhecido. Sobem os créditos e você não consegue desligar o aparelho enquanto a canção não terminar. 

Head Over Hills do Tears For Fears em Donnie Darko (2001)

Em um filme que parece uma trama onírica, a música do Tears For Fears encaixa perfeitamente na sequência em que é apresentada a rotina de Donnie (Jake GyllenHaal) na escola, a entrada, o vai e vem de alunos no corredor, seu futuro interesse romântico, a sala de aula, seus colegas e professores, todos com papéis essenciais na história. 

Shitlist do L7 em Assassinos Por Natureza (Natural Born Killers, 1994)

Está lá Mallory knox (Juliette Lewis) dançando em um bar de beira de estrada quando um caipira tem a ideia de chegar junto. Aí entra Shitlist do L7 na jukebox bem no momento em que começa mais uma matança num dia típico do casal Knox. Nada mais adequado que uma música feita por uma lendária banda de rock composta por mulheres para uma mulher esmurrar e matar um candidato a estuprador. 

This Must Be The Place do Talking Heads em Wall Street: Poder e Cobiça (Wall Street, 1987)

Bud Fox (Charlie Sheen) agora é um novo rico e precisa de um lar à altura da sua conta bancária. Ao encontrar um apartamento adequado ao novo homem que é, diz “este é o lugar” e aí entra a música do Talking Heads enquanto tudo é decorado e refeito. A mesma música volta a tocar nos créditos finais, assim como na sequência de 2010, O Dinheiro Nunca Dorme. 

Where is my Mind do Pixies em Clube da Luta (Fight Club, 1999)

Chegamos ao final, descobrimos o quão pirado é o protagonista vivido por Edward Norton e que o projeto caos foi um plano mesmo infalível. Então só resta relaxar ao som do Pixies enquanto os prédios explodem e os créditos sobem. 

Blue Moon por The Marcels em Um Lobisomen Americano em Londres (An American Werewolf in London, 1981)

A música só surge na subida dos créditos mas, depois da sequência brutal e do final abrupto, serve como uma espécie de respiro para a audiência, por sua levada dançante e descontraída, trazendo de volta o tipo de humor que John Landis imprimiu na maior parte da película. 

The Letter por The Box Tops em Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal (Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile, 2019)

Na cena, Ted Bundy está detido no tribunal e consegue fugir simplesmente pulando pela janela e correndo. A música é sobre um cara que está indo para casa o mais rápido possível após ter recebido uma carta da mulher amada, o que tem tudo a ver com o protagonista galã psicopata. 

After Dark do Tito & Tarantula em Um Drink No Inferno (From Dusk Till Dawn, 1996)

Os vilões aparentemente venceram. Os irmãos Gecko (George Clooney e Quentin Tarantino) mataram, roubaram, estupraram, sequestraram, fugiram da polícia, passaram pela fronteira e estão em segurança em um bar de beira de estrada em algum lugar do México. Eis que tudo pára e entra a grande atração do local, a Satanico Pandemonium (Salma Hayek), dançando ao som de After Dark. Inesquecível. 

Lust For Life do Iggy Pop em Trainspotting: Sem Limites (1996)

Trainspotting não é um filme, é uma experiência. O longa abre com Lust For Life do imortal punk ou algo do tipo Iggy Pop, tirada de um álbum lançado em 1977 produzido por David Bowie. O ritmo da música, a letra, tudo se conecta perfeitamente à história de um grupo de desajustados sociais. 

All My Life do The Beatles em Vingança Tardia (Five Corners, 1987)

Esse estranho e injustamente obscuro longa-metragem abre com a música dos Beatles enquanto a câmera passeia pela cidade até chegar à casa do protagonista vivido por Tim Robbins. Trata-se de uma história de mudanças, uma espécie de ‘coming age’ tardio, no qual uns personagens mudaram de verdade e outros juram que sim. Não encontrei nenhum recorte apenas com a música, mas bizarramente tem o filme completo no Youtube. Tem artigo completo sobre ele aqui mesmo no DP.

Nights in White Satin do The Moody Blues em Sombras da Noite (Dark Shadows, 2012)

O clima melancólico e introspectivo da canção da banda inglesa The Moody Blues, lançada em 1967, encaixa perfeitamente em uma obra do Tim Burton. A música soa logo nos primeiros segundos, acompanhando a personagem da Bella Heathcote em uma viagem de trem rumo a uma nova vida.