Homens maus a cavalo, donzelas em perigo, flechadas e buracos de bala: uma breve história dos filmes western

Dentre todos os gêneros e subgêneros do cinema, o Western é provavelmente o menos privilegiado desde a década de noventa. Mas sua história já foi bem mais rica em tempos idos, revelando grandes diretores e atores responsáveis por contos incríveis sobre Cowboys à margem da lei, dispostos a qualquer coisa por um punhado de dólares, prontos para matar ou morrer em duelos ao pôr do sol.

A Terra de Ninguém

O Velho Oeste, ou Oeste Selvagem, começou oficialmente quando o presidente Thomas Jefferson comprou o território de Lousiana da França, uma área que ficava à esquerda do Rio Missisipi e que, apesar de vazia, inóspita e repleta de índios, atraiu além de famílias interessadas em prosperar na nova terra, empresários, garimpeiros, bêbados, prostitutas e pistoleiros. Esse período oficialmente foi de 1803 a 1890. A primeira grande produção cinematográfica no gênero Western foi O Grande Roubo do Trem (The Great Train Robbery, 1903), dirigido pelo americano Edwin S. Porter. Obviamente, um filme mudo, mas considerado até hoje um grande clássico do gênero, com boas cenas de ação e história digna da época retratada.

O Duke do Oeste

No Tempo das Diligências (Stagecoach)-1939, mostra um grupo de nove pessoas, com personalidades e objetivos diferentes, atravessando o Arizona em uma diligência, perpassando cenas clássicas da época, como ataques de índios e duelos. Dirigido por John Ford, foi a obra que lançou John Wayne ao estrelato, ator que viria a ser consagrado como o maior ícone do gênero, atuando em mais de 35 filmes ao longo de sua carreira. Seu personagem, misturando doses de arrogância e respeito, de caráter severo mas justo, e olhar penetrante serviram de molde para a próxima geração de atores do gênero.

Os italianos também gostam de matar ou morrer

Na final da primeira metade da década de 60, as produções americanas entraram em declínio, com John Wayne assumindo menos papéis em filmes do gênero. Aproveitando o espaço, chegava a vez do ator desconhecido Clint Eastwood e do diretor Sérgio Leone levarem o Western a um novo patamar por meio de obras que ficaram conhecidas como Spaghetti Westerns, um termo pejorativo dado pelos críticos americanos. A dupla diretor-ator concebeu Por um Punhado de Dólares (A Fist Full of Dollars – 1964), no qual Eastwood interpreta um pistoleiro de caráter duvidoso que se envolve em uma disputa entre duas gangues rivais em uma pequena cidade típica do velho oeste.

O talento e esmero de Leone na direção, aliado à interpretação de Eastwood criando um pistoleiro de visual sujo, mal até os ossos, e expressão de desprezo pavimentaram o caminho de duas sequências bem mais elaboradas em todos os aspectos, formada Por um Punhado de Dólares a Mais (For a Few Dollars More – 1965) e finalmente a obra definitiva e obrigatória para os fãs não só do gênero, mas do cinema em geral: Três Homens em Conflito (The Good The Bad And The Ugly – 1966). Mas nenhum filme está completo sem uma trilha sonora marcante. O compositor italiano Ennio Morricone foi o grande parceiro responsável por criar temas que contribuíram para tornarem as produções imortais. Certamente até mesmo quem não viu o filme, reconhece o tema principal de Três Homens em Conflito, inclusive utilizada pelas bandas de rock pesado Metallica e Ramones antes do início de seus shows.

Django, de 1966, interpretado por Franco Nero, se tornou um filme bastante popular principalmente em nosso país. Django conta a clássica história de vingança, desta vez perpetrada por um pistoleiro misterioso que, arrastando um caixão cheio de armas, chega a uma cidade na qual duas facções de criminosos estão em guerra. Violência, mais um personagem cativante e trilha sonora que gruda na cabeça fizeram de Django um clássico, tendo Inclusive seu nome “roubado” e utilizado por outras produtoras em filmes sem nenhuma correlação com o original.

Outro ator italiano que se tornou bastante popular nos Spaghetti Westerns foi Giuliano Gemma. Dentre seus maiores sucessos estão Uma Pistola para Ringo (Una pistola per Ringo, 1965); O Dólar Furado (Dollaro Bucato, Un, 1965) e O Dia de Ira (I Giorni dell’ira, 1967).

Mais Pólvora, Sangue e Whisky

Sete Homens e Um Destino (Magnificent Seven, The, 1960). Um vilarejo pobre do México contrata 7 pistoleiros para enfrentar um grupo de bandoleiros que constantemente atacam e roubam a população. Além de um grande filme de ação com elenco estelar (Steve Macqueen, Yul Brynner e Charles Bronson), aborda de forma consistente o lado psicológico dos envolvidos na trama.

O Preço de Um Covarde (Bandolero!, 1968). Estrelado por James Stewart, mostra dois irmãos que conseguem escapar da forca e roubar o banco da cidade ao mesmo tempo, mas são perseguidos pelo xerife, interessado mais na refém que nos bandidos, até o território do México, repleto de bandoleiros dispostos a matar qualquer gringo.

Mais Forte que a Vingança (Jeremiah Johnson, 1972). Dirigido por Sydney Pollack, trata-se de um western diferente. Traz a história de um homem que decide viver recluso nas montanhas geladas do Colorado (Jeremiah Johnson, interpretado por Robert Redford), mas que acaba entrando em confronto com a tribo de índios Corvos. O seu diferencial reside no ritmo lento, introspectivo, aproximando o espectador das belas paisagens gélidas e dos hábitos e costumes dos indígenas. É o que chamaria de “cinema literário”.

Eastwood Cavalga Sozinho

Depois da Trilogia dos Dólares, Eastwood atuou e dirigiu diversas produções americanas, alternando outros papéis no cinema. Destacam-se A Marca da Forca (1968), O Estranho sem Nome (1973), Josey Wales O Fora-da-lei (1976) e O Cavaleiro Solitário (1985). A partir da década de oitenta, o gênero sofreu uma queda de popularidade, que foi se acentuando cada vez mais até os dias atuais. Eastwood voltaria pela última vez ao tema que o consagrou, dirigindo e atuando em Os Imperdoáveis (Unforgiven, 1992), filme vencedor do 65º Oscar nas categorias Melhor Filme e Melhor Diretor. Contando uma história focada no drama, Eastwood interpreta um pistoleiro aposentado que volta a ativa para um último serviço, em um Velho Oeste com um ar diferente, mais realista. Trata-se de uma trama bem construída, que vai além da questão de matar ou morrer, abordando o lado humano dos personagens, mas sem deixar de lado a violência.

Tempos Modernos

Nos anos seguintes, pouco há para ser citado de relevante, mas se destacam o ótimo Tombstone – A Justiça está chegando (Tombstone, 1993), baseado na história real do xerife Wyatt Earp, interpretado por Kurt Russel; Rápida e Mortal (The Quick and the Dead, 1995) dirigido por Sam Raimi e estrelado por Sharon Stone e Russel Crowe, com muita ação em duelos até a morte; À Procura da Vingança (Seraphim Falls, 2006), com Liam Neeson e Pierce Brosnan em uma instigante perseguição mortal pela Terra de Ninguém; e finalmente o remake de Bravura Indômita (True Grit, 2010), no qual Jeff Bridges substitui John Wayne no papel principal.

Mas afinal, o que há de tão fascinante neste universo? Provavelmente o fato de possibilitar uma espécie de volta à idade das trevas, apresentando uma sociedade no início de sua estruturação nos termos mais básicos, onde os homens dependiam de suas próprias habilidades no gatilho e nas cartas, e a “lei” era mais bem aplicada pelas próprias mãos. Histórias de sobrevivência, de injustiças, mostrando que mesmo em um mundo de leões, um homem poderia fazer a diferença. O Western pode não estar em evidência, ou mesmo nunca mais voltar a tomar tanto a atenção do grande público, mas suas obras na sétima arte sempre irão ter espaço especial nas estantes dos fãs.