15 vezes em que o tio Sam precisou de você

O que pode ser mais assustador? Um espírito querendo dizer que a casa que você comprou na verdade é dele, uma criatura que te mata através dos pesadelos, um assassino imortal com máscara de hockey, um monstro alienígena transmorfo, um exército de zumbis devoradores de carne humana ou estar a milhares de quilômetros de casa empunhando um rifle e levantando uma bandeira contra pessoas que você nunca viu antes em meio a um cenário de devastação, passando fome e suportando dores que nem imaginava que existiam, muitas vezes sem nem saber direito o propósito de suas ações? Tire as possibilidades que não existem e o que sobra é o horror da realidade, mais assustadora que qualquer filme de terror.

O inferno não é um lugar repleto de fogo, cheiro de enxofre comandado por um carvoeiro vermelho e chifrudo alimentando as chamas. O inferno é a guerra. Pergunte a quem já foi ou apenas veja os filmes certos. O governo dos Estados Unidos já usou o cinema como propaganda, apresentando conflitos nos quais os mocinhos americanos combatiam vilões internacionais, inimigos da liberdade. Obras como Iwo Jima – O Portal da Glória (Sands of Iwo Jima, 1949) e O Álamo (The Alamo, 1960), ambos estrelados pelo garoto propaganda estadunidense John Wayne são dois exemplos desse tipo de produção.

Uma das primeiras obras do gênero a explorar o poder propagandístico das imagens sequenciais foi The Battle Cry Of Peace (1915), um filme de 90 minutos que narra o que aconteceria se Nova York fosse invadida por uma força hostil europeia. Hearts of The World (1918), de D.W. Griffith, foi basicamente realizado com a ajuda da Inglaterra, na esperança de que, de algum modo, convencesse os Estados Unidos a participarem da Primeira Guerra.

Durante os tempos de paz, o gênero não foi deixado de lado. O Grande Desfile (The Big Parade, 1925), de King Vidor, trazia um novo tipo de abordagem, mostrando o lado terrível das batalhas, com três soldados tentando sobreviver nas trincheiras. Um sucesso nas bilheterias da época. Asas (Wings, 1927) conta a história de dois pilotos que disputam o amor da mesma mulher em plena Primeira Guerra. Foi o primeiro filme, e o único mudo, a ganhar o prêmio de Melhor Filme na primeira edição do Oscar, em 1929.

A série Five Came Back, produzida pela Netflix, apresenta a história de como cinco grandes cineastas de seu tempo, John Ford, William Wyler, John Huston, Frank Capra e George Stevens, participaram da Segunda Guerra e qual o impacto das suas produções para a propaganda militarista. Aliás, a Segunda Guerra é provavelmente a que inspira o maior número de filmes do gênero.

A Guerra do Vietnã deu margem a visões críticas e pessimistas sobre a guerra, ou simplesmente a ridicularizava, como na comédia MASH (1970), de Robert Altman, ou produções que apresentavam faces amargas do conflito, como Apocalypse Now, de Coppola, e O Franco Atirador, de Michael Cimino, ambas deixando o sangue escorrer à vontade e pedaços de corpos saltarem na selva. Quem sobrevivia ficava no mínimo traumatizado para o resto da vida. Travis Brickle (Robert DeNiro) de Taxi Driver (1976), dirigido por Martin Scorsese, é um veterano de guerra psicologicamente fragilizado, para dizer o mínimo.

Outros conflitos foram reproduzidos pelas lentes norte-americanas, mas em menor escala. Tivemos Guerra do Golfo, operações na África, Coreia, Granada e até mesmo dentro dos Estados Unidos, com a Guerra da Secessão, retratada em Josey Wales – O fora da lei (The Outlaw Josey Wales, 1976) e no recente Um Estado de Liberdade (Free State of Jones, 2016).

A seguir, listo em ordem cronológica, agrupados por conflitos, 15 grandes produções de um dos gêneros mais fascinantes do cinema, por colocar homens comuns em situações limite, muitas inspiradas em eventos históricos e relatos pessoais reais.

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O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, 1998) – Segunda Guerra
“Mantenham a areia longe das armas. Deixem a mente clara. Vejo vocês na praia.”

O filme começa com uma das sequências de combate mais brutais e impressionantes já realizadas nesse gênero, recriando a invasão da Normandia em 6 de Junho de 1944. Na batalha, dois irmãos são mortos em ação. Em Nova Guiné, um terceiro irmão perece. A mãe deles recebe três telegramas no mesmo dia informando sua tripla perda. O exército americano então dá a oito soldados a missão de encontrar e trazer para casa o quarto e último filho ainda vivo da pobre mulher, James Ryan (Matt Damon).

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Além da Linha Vermelha (The Thin Red Line, 1998) – Segunda Guerra
“Eu vejo aquele garoto morrendo e não sinto nada. Não me importo com mais nada.”

Além da Linha Vermelha retrata a batalha entre japoneses e americanos pela ocupação da ilha de Guadalcanal, ponto estratégico no Pacífico Sul. A guerra é combatida por homens, e Além da Linha Vermelha se propõe a mostrar o que se passa na mente dos soldados, seres humanos capazes de refletir acerca de suas ações, e não apenas máquinas descartáveis de guerra. O filme tem um vasto elenco de nomes conhecidos, como Sean Penn, Adrien Brody, Jim Caviezel, George Clooney, Nick Nolte e John Travolta. Possui uma linha narrativa fragmentada, apresentando um pouco do ponto de vista dos vários personagens, construindo calmamente uma visão do todo, em um estilo introspectivo já característico do diretor Terrence Malick, mas longe da subjetividade exacerbada com a qual ele inundou A Árvore da Vida (The Tree of Life, 2011).

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Cartas de Iwo Jima (Letters From Iwo Jima, 2006) – Segunda Guerra
“Por nosso país. Até o último homem. Nosso dever é deter o inimigo aqui. Não esperem voltar vivos para casa.”

O filme mostra o lado dos soldados japoneses designados para proteger da invasão americana uma pequena ilha vulcânica que possuía como único valor a posição estratégica para a guerra. Abandonados à própria sorte pelo governo, a única esperança dos soldados são as táticas inovadoras do General Tadamichi Kuribayashi (Ken Watanabe). Os japoneses são levados ao limite quando as armas, a comida e até a água acabam, restando assim cumprir o código de honra baseado nos antigos samurais. Uma aposta corajosa do diretor Clint Eastwood, ao fazer um filme retratando o lado inimigo durante a Segunda Guerra.

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O Franco Atirador (The Deer Hunter, 1978) – Vietnã
“Um cervo tem de ser abatido com apenas um tiro. Eu tento ensinar isso às pessoas, mas elas não escutam.”

Três jovens operários de uma cidadezinha do interior dos Estados Unidos, Michael (Robert De Niro), Steven (John Savage) e Nick (Cristopher Walken), são enviados para a guerra do Vietnã. Os três são capturados pelos vietcongues e levados a um campo de prisioneiros onde são forçados a jogarem roleta russa uns contra os outros. Michael consegue organizar uma fuga do local, mas os dias de tortura intensa deixaram sequelas psicológicas permanentes em Nick. Um dos grandes filmes da Nova Hollywood realizado pelo diretor que terminaria por encerrar o movimento com uma produção desastrosa dois anos depois, Michael Cimino.

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Apocalypse Now (1979) – Vietnã
“Disneylandia? Porra, cara, isso é melhor que a Disneylandia.”

Durante a guerra do Vietnã, um oficial do exército dos Estados Unidos, Capitão Willard (Martin Sheen), é enviado para uma missão secreta: Procurar e matar o Coronel Kurtz (Marlon Brando), um oficial que se rebelou e desapareceu com sua tropa no interior de Camboja, criando uma espécie de exército particular com a aceitação dos nativos e se tornando uma espécie de deus louco. Com um pequeno grupo de fuzileiros, Willard segue viagem de barco em direção ao coração das trevas, se deparando no caminho com o horror e a insanidade da guerra. Uma autêntica viagem para o inferno. Um filme de Francis Ford Coppola.

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Platoon (1986) – Vietnã
“Agora, olhando para trás, vejo que não combatemos o inimigo. Lutamos contra nós mesmos. E o inimigo estava em nós.”

Chris Tayler (Charlie Sheen) abandona os estudos e se alista voluntariamente para lutar no Vietnã. Lá, descobre que sua presença é considerada insignificante para a guerra e mais insignificante ainda para seus próprios colegas, por conta de sua inexperiência em combate. Sua tropa acaba dividida entre dois oficiais, o beligerante Sargento Robert Barnes (Tom Berenger) e o ético Sargento Elias Grodin (Willem Dafoe) após um massacre criminoso durante a ocupação de uma vila inimiga. Crhis então percebe que está em duas frentes de batalha. Em uma, luta para sobrevier à guerra em si e, em outra, para sobreviver ao conflito interno em seu pelotão. Um filme de Oliver Stone baseado em suas próprias experiências como soldado.

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Nascido Para Matar (Full Metal Jacket, 1987) – Vietnã
“Um dia sem sangue é como um dia sem sol.”

A primeira metade do filme apresenta um grupo de recrutas sob o comando do sádico Sargento Hartman (R. Lee Ermey). O oficial leva os recrutas ao limite, com humilhações físicas e psicológicas. A segunda parte mostra o agora soldado Joker (Matthew Modine) cobrindo a guerra como correspondente do jornal militar Star and Stripes, em um ambiente insano. Uma obra (obrigatória) de Stanley Kubrick.

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Pecados de Guerra (Casualties of War, 1989) – Vietnã
“Mesmo que eu atravesse o vale da morte, não temerei mal algum, porque eu sou o filho da mãe mais malvado de todo o vale.”

Durante o conflito do Vietnã, uma garota é tirada de sua vila por cinco soldados americanos. Quatro deles a estupram, com exceção de Eriksson (Michael J. Fox). Após a garota morrer, Ericksson fica determinado a levar o caso à justiça militar mesmo  que um dos estupradores, o Sargento Thomas Clark (Sean Penn), já tenha salvado sua vida. Agora, visto por seus companheiros como um traidor, o jovem soldado teme ser vítima de uma “bala perdida”. Um filme do mestre do suspense Brian De Palma.

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Fomos Heróis (We Were Soldiers, 2002) – Vietnã
“Nós que já vimos a guerra, nunca vamos deixar de vê-la. Durante o silêncio da noite, sempre vamos continuar a ouvir os gritos.”

No vale de La Drang , o Coronel Hal Moore (Mel Gibson) e 400 jovens da recém-formada 7ª Cavalaria Aérea são cercados por 2000 norte-vietnamitas. A batalha foi uma das mais selvagens da história dos Estados Unidos e é muito bem retratada em Fomos Heróis. Dá até pra sentir o calor do napalm na tela da televisão. Quando a ação começa, prossegue de forma ininterrupta, revelando todo o horror e sofrimento de um campo de batalha. Enquanto até então os grandes filmes sobre o Vietnã retratavam os acontecimentos com um véu de cinismo e farpas críticas, esse longa tenta mostrar o puro heroísmo dos soldados derrotados.

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Patton – Rebelde ou Herói? (1970) – Segunda Guerra
“Nenhum bastardo jamais venceu uma guerra morrendo pelo seu país. Ganhou fazendo outro estúpido bastardo morrer pelo país dele.”

Em 1943 no deserto da Tunísia, em plena Segunda Guerra Mundial, um exército americano é massacrado pelas forças nazistas comandadas pelo General Rommel. Para tentar reverter a situação, o governo americano decide chamar para liderar as tropas aquele que poderia ser conhecido como o Sun Tzu ocidental para alguns ou apenas um velhote grandessíssimo filho da puta para outros: o general George Patton (George C. Scott). Afastando as impressões pessoais, Patton se revela um mestre nas estratégias de guerra, porém suas atitudes extravagantes, fome de glória e principalmente sua língua de trapo colocam sua carreira militar em risco em vários momentos. Um filme de guerra que não mostra a guerra em si, mas as maquinações estratégicas por trás dos combates e a sempre presente política interferindo nos acontecimentos.

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Três Reis (Three Kings, 1998) – Guerra do Golfo
“Bush disse às pessoas que lutassem contra Saddam. Eles pensaram que teriam nossa ajuda. Não tiveram. Agora estão sendo assassinados.”

A Guerra do Golfo acabou e os soldados mal tiveram a chance de entrar em ação. Três combatentes, Archie Gates (George Cloonan), Troy Barlow (Mark Whalberg) e Chief Elgin (ice Cube), descobrem um mapa que leva a uma grande quantidade de barras de ouro. Logo, o que seria uma breve operação secreta de enriquecimento ilícito, acaba levando a uma jornada mercenária que se transforma em uma espécie de missão extra-oficial de resgate e ajuda aos habitantes locais.

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Falcão Negro em Perigo (Black Hawk Down, 2001) – Somália
“Ninguém pede para ser herói. Às vezes simplesmente acontece.”

Uma desastrosa missão na Somála ocorreu em 3 de Outubro de 1993. Cerca de 100 soldados americanos, comandados pelo Capitão Mike Steele, saíram em missão para capturar dois tenentes de um guerrilheiro Somali, mas tudo deu errado. Dois helicópteros americanos são abatidos em plena Mogadíscio e os sobreviventes tentam resistir às investidas de centenas de inimigos. Um filme de ação frenética sob a direção de Ridley Scott.

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Lágrimas do Sol (Tears of The Sun, 2003) – Nigéria
“Quebrei minha própria regra. Comecei a não me importar e arrastei vocês comigo.”

O Tenente Waters (Bruce Willis) e seus comandados dos SEALs são enviados para uma comunidade no interior da Nigéria para resgatar uma médica americana, lena Kendricks (Monica Belluci), antes da chegada das tropas de um novo ditador. A doutora se recusa a abandonar os habitantes da vila, convencendo os soldados a escoltarem todos, a pé, por 65Km selva adentro.

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Soldado Anônimo (Jarhead, 2005) – Iraque
“Toda guerra é diferente, e todas são a mesma guerra.”

No final da década de 80, Anthony Swofford (Jake Gyllenhaal) se alista no exército. A Guerra do Golfo explode e sua unidade vai para a Arábia Saudita. Após 175 dias de monotonia, adrenalina, calor, as limpezas de latrinas de sempre e preocupação sobre sua namorada se apaixonar por outra pessoa, finalmente a Operação Tempestade No Deserto começa. E acaba em menos de cinco dias. Quem era o inimigo? Onde estavam? Talvez ainda dê tempo de matar alguém.

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Guerra ao Terror (The Hurt Locker, 2008) – Afeganistão
“Sabe, isso não tem de ser uma experiência ruim. Ir à guerra é uma experiência única na vida. Pode ser divertido.”

O filme acompanha as missões de um grupo de elite do exército americano que tem um dos trabalhos mais perigosos do mundo: desarmar bombas em zonas de guerra. Quando um novo Sargento, William James (Jeremy Renner), chega para tomar o lugar do anterior, morto em uma ação mal sucedida, seus métodos são considerados insanos e o põem em colisão contra seus companheiros, com medo de acabarem explodidos por conta da metodologia insana do novo colega. James é um homem que não demonstra nenhum temor à morte. Aliás, só sente algum prazer na vida quando está correndo algum tipo de risco, o que faz com que seus companheiros ponderam sobre a possibilidade de eliminá-lo. Dirigido por Kathryn Bigelow, levou o Oscar de Melhor Filme em 2010.