Carcosa e outros mundos na arte de Michael Hutter

Para quem gosta de obras que exploram o fantástico, o obscuro, o surreal e o diabólico, as pinturas do artista alemão Michael Hutter funcionam como invocações mágicas capazes de capturar sua mente e a lançar em mundo sonhado por um escritor cujo destino final continua ignorado desde 1913.

Os elementos de erotismo e morte em cenários de ficção científica apresentados em seus trabalhos, segundo o próprio, são inspirados na lógica dos sonhos, especificamente àqueles que levam à cidade de Carcosa, concebida originalmente pelo escritor Ambrose Bierce e descrita no conto publicado em 1886 chamado “Um habitante de Carcosa”.

O conto de Bierce marcou para sempre o imaginário popular, influenciando até hoje escritores, cineastas, produtores, pintores e músicos.

Em 1895, Robert W. Chambers publicou O Rei de Amarelo, uma série de pequenos contos de horror que se conectavam e expandiam o conceito criado por Bierce. H.P. Lovecraft também foi outro escritor que incorporou a funesta cidade em suas obras.

Mais recentemente, em um mapa no livro “A song of Ice and Fire”, de George R. R. Martin, pode-se encontrar uma referência ao diabólico local. Mas, uma das obras mais recentes a se utilizar explicitamente do folclore iniciado por Bierce e fortalecido por Chambers foi a primeira temporada da série da HBO, True Detective, apresentando uma sinistra seita de fanáticos ligada ao Rei de Amarelo e à Carcosa.

Eu não ligo para a realidade ou a probabilidade de que algo seja verdadeiro, apenas para o potencial que possuem para estimular meus pensamentos. Em minha opinião, a verdade é de algum modo também uma ilusão. Misturo isso com minha obsessão, minhas paixões, desejos e medos e vejo o que vêm à superfície do abismo da minha personalidade.

Quando questionado sobre suas influências, especificamente sobre a semelhança de seu estilo com o de Hieronymus Bosch, Hutter afirma que não se inspira apenas nele, mas em uma miríade de artistas que conheceu ao longo do tempo, assim como acontece com pessoas de todos os campos artísticos ou do conhecimento como um todo.

Descobriu Lovecraft e Clark Ashton Smith aos 16 anos, já fascinado por tudo que tinha relação com o oculto. Esses autores o provocaram uma espécie de epifania, e confirma que ainda possuem grande influência nele, especialmente por seus conceitos do que é estranho, incomum. Além de Chambers, Poe, Smith, Lovecraft e os contos do irmãos Grimm, uma de suas maiores influências literárias é a bíblia, o livro mais cruel que diz já ter lido.