Dylan Dog – Manchas Solares

Uma antena instalada em Islington está funcionando como um catalisador macabro, possibilitando uma abertura pela qual um sinistro e imparável contágio vêm atingindo Londres. Qual a ligação entre os distúrbios da superfície do sol com o aumento do número de suicídios, atos gratuitos de violência e acidentes que estão acontecendo pela cidade?

Em comemoração aos 30 anos de vida editorial de Dylan Dog, o Adriano Lorentz, fã brasileiro do personagem, resolveu arregaçar as mangas e publicar ele mesmo três edições do título italiano que, desde fevereiro de 2006, data de lançamento da última edição publicada pela Editora Mythos, está ausente das bancas brasileiras. Formalizado o compromisso constituindo a Editora Lorentz, Adriano prosseguiu com seu plano e já se encontra em bancas e comic shops do país o segundo número, Manchas Solares.

A primeira edição, Retorno ao Crepúsculo, apresentou uma história escrita pelo criador do personagem, Tiziano Sclavi. Desta vez, representando a segunda fase editorial de Dylan Dog, foi selecionada uma história roteirizada por Pasquale Ruju, escritor já bastante conhecido por aqui pelos leitores de Tex. Pela Editora Bonelli Ruju ainda criou as séries Demian e Cassidy, além de também já ter feito roteiros para Nathan Never, Martin Mystere e Dampyr. Com o Detetive do Pesadelo, o autor escreveu o maior número de roteiros para a casa, fazendo parte da equipe desde 1995, estreando em uma história curta no Dylan Dog Gigante nº 4. Os desenhos neste número ficaram por conta do veterano Bruno Brindisi, artista que já havia desenhado, até 2014, trinta e nove histórias de Dylan Dog, sendo inclusive selecionado para a edição comemorativa nº 200.  Uma ótima dupla capaz de conquistar mais leitores brasileiros para o personagem.

Em Manchas Solares, uma onda de calor parece estar abalando os habitantes de Londres mais do que o normal. O inspetor Bloch relata um aumento impressionante no número de suicídios e acidentes de trânsito na cidade e a coisa vai piorando. Um suicida pula de um prédio usando um colete de explosivos. Um motorista de ônibus se encharca de gasolina e ateia fogo a si mesmo. Na fila dos correios, um homem usa uma serra elétrica para chegar ao guichê mais rápido.

Quem tenta explicar o que está acontecendo com a população é o Dr. Saltzman, um cientista que alerta Dylan Dog acerca do perigo da influência maligna das manchas solares, regiões na superfície do sol que apresentam concentração de campo magnético e emitem radiação. As pessoas expostas a essa radiação passam a agir como se estivessem possuídas por demônios.

O ceticismo usual do Detetive do Pesadelo reforçado pelo descrédito da filha do cientista, que invade o escritório localizado na rua Craven Road nº 7 para levar o pai embora, fazem com que Dylan ignore as teorias do aparentemente cientista louco. Mas, quando o pai e filha sofrem um acidente de trânsito logo após saírem de sua casa e são levados por uma estranha dupla de enfermeiros, o quinto sentido e meio de Dylan anuncia que alguma coisa dos devaneios de Saltzman fazia sentido.

Vasculhando anotações do cientista sobre os estranhos fenômenos provocados pelas manchas solares, e refletindo sobre os fatos enquanto toca seu clarinete, o investigador decide entrar em ação, indo até uma torre distribuidora de sinais de tv, celular e rádio, instalada na rua da casa de Saltzsman, em Islington. Lá, Dylan reencontra a filha dele, June, ainda traumatizada pelos eventos após o acidente. Mas os moradores do lugar já estão completamente hipnotizados pelos raios solares, formando um exército de zumbis que pretende destruir a humanidade para que ela possa renascer e assim trazer paz ao mundo.

Dylan Dog já enfrentou lobisomens, zumbis, demônios, serial killers, monstros de várias naturezas e até animais assassinos. Mas com quais armas ele pode combater os raios do sol? O roteiro de Ruju se mostra bastante criativo, misturando o fenômeno astronômico das manchas solares com lendas que relacionam o astro rei a uma divindade vingativa, complementando ainda com a poluição ambiental que danifica a camada de ozônio e estudos controversos que denunciam potenciais malefícios de torres de transmissão instaladas próximas a áreas residenciais.

O horror de Dylan Dog, como já me referi anteriormente, funciona melhor quando se aproveita de elementos do dia a dia, como o stress do transporte público, de uma fila de caixa de banco ou do próprio trânsito, catalisados por um clima extremamente quente, no qual o calor do sol literalmente frita o cérebro das pessoas, transformando a todos em potenciais versões anabolizadas de Michael Douglas em Um Dia de Fúria (Falling Down, 1993).  A narrativa leva, lentamente a princípio, mas depois com uma velocidade surpreendente, a uma situação pós apocalíptica, na qual os protagonistas, herói e mocinha, se vêm em um mundo insano no qual a resistência contra o fenômeno da natureza parece inútil.

A história selecionada, publicada originalmente na edição italiana nº 192, parte da segunda fase da vida editoria do personagem, não apresenta praticamente diferença em termos de características do título. Dylan continua cético, com momentos de filosofia barata em meio às frases banais, Groucho dispara piadas infames, o sangue jorra em quantidades generosas em cenas gore, o belo par romântico está presente (ainda que sem tempo para o romance dessa vez) e o final veio naquele melhor estilo Sclavi de encerramentos. Aconteceu ou não aconteceu? Afinal, o quê aconteceu?

Você termina a leitura e já sente curiosidade de pesquisar mais a respeito das manchas solares, dos mitos sobre o sol enquanto divindade e começa a lembrar de filmes que têm uma temática semelhante. Lembrei, por exemplo, além de Um Dia de Fúria, já citado, de O Sinal (The Signal, 2007), uma ficção científica na qual uma misteriosa transmissão invade televisões, telefones e rádios, transformando as pessoas em maníacos assassinos descontrolados.

O terceiro, e espero não derradeiro, número trará uma história escrita por Roberto Recchioni, Mater Morbi!

 

Dylan Dog nº 2 – Manchas Solares
Editora: Lorentz
Roteiro: Pasquale Ruju
Desenhos: Bruno Brindisi
Formato: 16 x 21 cm (italiano)
Número de páginas: 100
Preço: R$ 16,00