Dylan Dog Nova Série – O que há de novo no investigador do pesadelo? 

Recentemente alguém perguntou em um grupo de quadrinhos do Facebook qual título do Dylan Dog seria mais recomendado para leitores iniciantes. Dylan Dog” ou “Dylan Dog Nova Série”? 

Dylan Dog já fora publicado no Brasil pelas editoras Record, Conrad, Mythos e Lorentz. Percebendo que havia uma nova brecha no mercado, que os leitores de quadrinhos finalmente haviam aberto seus horizontes para além da Marvel, DC e mangás, a Mythos retomou o título e Dylan Dog reencarnou pela quinta vez.

Com o modesto sucesso do relançamento do investigador do pesadelo, a Mythos resolveu dobrar a aposta, lançando poucos meses depois o título “Dylan Dog Nova Série”, onde seriam publicadas as histórias a partir do nº 338 da revista original italiana.

O adjetivo “novo” parece exercer uma atração natural, seja em leitores veteranos ou recém chegados aos quadrinhos. Em um personagem da Bonelli, editora que vem a cada ano conquistando mais espaço no Brasil, parece funcionar como um convite ainda mais óbvio. 

O roteirista e editor Sergio Bonelli costumava dizer que em time que está ganhando não se mexe. Assim, os personagens da editora que enverga seu nome raramente sofriam modificações, sejam nas características principais dos protagonistas ou no estilo da narrativa. 

Nada de Splash pages (ilustrações que tomam uma página inteira), por exemplo, assim como nada de expedientes como origens alteradas ou mortes e retornos dos heróis da casa, eventos tão comuns nos comics americanos. 

Quando Dylan Dog estreou na segunda metade da década de 1980, rapidamente se tornou um fenômeno editorial. Em certo momento, chegou a vender mais que Tex, o carro chefe da casa. Era um período no qual o gênero horror estava em alta no cinema, fato que naturalmente refletiu no sucesso do investigador do pesadelo na bancas. 

Os anos passaram, Sergio faleceu, os autores envelheceram, assim como os leitores, o mercado editorial sofreu perdas numéricas e nenhum personagem/editora ficou incólume a esse fenômeno global. Assim como Zagor foi salvo do cancelamento por um plano bem definido que reuniu um grande time de roteiristas, chegou a vez de o investigador do pesadelo passar pelo mesmo processo. 

Em 2013 Tiziano Sclavi, criador e um dos principais roteiristas de Dylan Dog, passou o bastão para Roberto Recchione, que já fazia parte da equipe criativa desde 2007. A partir de 2014, uma série de sutis inovações começariam a ser aplicadas na publicação sob a orientação e visão do “herdeiro” do personagem.

Dylan Continuou se apaixonando seguidamente, tendo medo de aviões, morando no mesmo endereço na Craven Road, dirigindo o mesmo fusca e a amizade com o assistente Groucho continuou inabalável. Mas então um evento aconteceu: O inspetor Bloch finalmente se aposentou, como disse que faria desde sua primeira aparição. Esse evento tão cotidiano, banal, provoca repercussões na vida do detetive. Já havíamos aprendido nas páginas de Dylan Dog que nos eventos banais é onde se esconde o verdadeiro terror. 

Afinal, o que há de realmente novo na série do Dylan Dog? A seguir, as alterações perceptíveis até o nº 17 da publicação da Mythos:

1. A aposentadoria do inspetor Bloch. O velho amigo de Dylan finalmente vai viver uma vida tranquila, se refugiando em uma cidadezinha chamada Wickedford. Isso não significa que o personagem irá sumir definitivamente. Volta e meia ele ainda ajuda o Old Boy a resolver alguns casos, sejam em Londres ou na localidade. 

2. Hostilidade da polícia. A aposentadoria de Bloch provoca uma nova dinâmica com a Scotland Yard, uma vez que o novo inspetor-chefe, Tyron Carpenter, acredita que Dylan é uma espécie de estelionatário e deve ser preso. 

3. Uma coadjuvante que resiste ao charme de Dylan. A sargento Rania Hakim, de origem muçulmana, parece uma personagem feminina que resistirá aos encantos do investigador do pesadelo, apesar de rolar uma perceptível atração entre os dois. Apesar da desaprovação de Capenter, a dupla se alia quando necessário em alguns casos. 

4. Um novo arquivilão. Xabarás era até então era o grande oponente de Dylan Dog, mas agora John Ghost se apresenta como uma espécie de Lex Luthor, um empresário amoral, um agente a serviço de entidades desconhecidas e disposto a provocar desastres controlados com objetivos não muito claros. 

5. Senso de continuidade. As histórias de Dylan Dog sempre foram autocontidas, usualmente iniciando e terminando em uma mesma edição, com pontuais exceções. Nessa “nova série”, o formato continua, mas captamos um sutil senso de continuidade. Eventos que acontecem em um número lançam consequências e repercussões nas próximas histórias. Nada que comprometa o entendimento de novos leitores, mas pequenas pistas que são deixadas que conectam com eventos passados e prometem repercutir mais na frente. 

6. Rotatividade maior de roteiristas. Recchione, editor e roteirista, alterna histórias com Paola Barbato, Gigi Simeoni, Michele Medda, Luigi Mignacco, Barbara Baraldi, Ratigher, Cavaletto e Fabrizio Accatino, trazendo uma variedade de situações, temas, referências e abordagens que tornam o título mais interessante. 

7. Desenhistas. Veteranos já conhecidos por aqui como Bruno Brindisi e Angelo Stano continuam, mas enchemos os olhos com a arte de Piero Dall’agnol, Giorgio Pontrelli, os irmãos Gianluca e Raul Cestaro, Nicola Mari, A. Baggi, Luca Casalanguida, Emiliano Tanzillo e Paolo Martinello. Alguns até podem provocar uma estranheza inicial, mas os estilos se encaixam perfeitamente no horror urbano do título. 

8. Novas possibilidades narrativas. Agora começamos a ver até splash pages nas histórias, um recurso usando com moderação que engrandece algumas cenas, sendo muito bem-vindo, especialmente com a chegada de novos artistas. 

9. Choques de modernidade. Dylan Dog, assim com Julia, se recusa a usar smartphones. Agora vemos o Old Boy aderir com mais frequência ao uso da internet em suas investigações e a contar com o auxílio do Ghost 9000, um celular de última geração presenteado por John Ghost mas que acabou sendo adotado por Groucho, que fica suspeitamente íntimo do aparelho.