Brubaker — A solitária luta de um idealista

A colônia penal de Wakefield, no Arkansas, pode ser posta na lista de piores unidades prisionais retratadas nas telas do cinema ao lado da Guiana Francesa em Papillon (1973) e da prisão turca em O Expresso da Meia Noite (Midnight Express, 1978). Faz a Emerald City de OZ parecer um acampamento de verão estilo Almôndegas (Meat Balls, 1979).

As primeiras cenas da película, apresentando a chegada e acomodação de novos detentos, é um desfile de barbaridades arrepiantes. Estupro, tortura, agressões gratuitas e toda sorte de desrespeito aos mais básicos direitos humanos. Os doentes e feridos só conseguem assistência médica se pagarem ao médico. As instalações são totalmente insalubres, a comida é asquerosa e os internos ainda são forçados a trabalharem de graça para a comunidade empresarial local. 

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Henry Brubaker (Robert Redford) é um dos recém-chegados e apenas observa todos os absurdos, jamais questionando ou interferindo. Assim como ele, o espectador também é apresentado às regras e rotina do lugar. Quando um detento da ala de isolamento, interpretado por um jovem Morgan Freeman, em sua primeira atuação creditada, surta e ameaça matar outro prisioneiro que entrara para limpar o pavilhão, Brubaker finalmente sai de sua anomia. O sujeito começa a fazer exigências e então o novato se apresenta como o novo diretor do presídio. Blefe ou verdade?

Para surpresa de todos (menos para quem leu a sinopse do filme ou chegou até esse artigo), o prisioneiro é mesmo o novo manda-chuva. Tendo passado por uma carreira no exército, aceitou assumir o encargo de confiança com o objetivo de aplicar um projeto de reformulação do sistema penal. Quando a tarefa é idealista, somente os idealistas assumem a tarefa, e esse é Brubaker, um homem incorruptível que não aceitará acordos ou concessões, o que o colocará em rota de colisão contra políticos inescrupulosos, guardas corruptos, prisioneiros céticos e sociedade civil local que quer manter o sistema inalterado. 

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Na colônia penal, presos de confiança ajudam na rotina da cadeia, inclusive podendo portar armas de fogo. Os guardas se mostram mais corruptos que os internos e os servidores públicos mais analfabetos e cínicos que todos os demais. Aos poucos, Brubaker vai tentando formar sua própria equipe, abolindo os severos castigos físicos e cortando esquemas de corrupção como a venda de alimentos destinados à cadeia. institui um conselho de prisioneiros e tenta restituir alguma espécie de autonomia e orgulho entre eles, alguns trancafiados há décadas e simplesmente esquecidos pelo sistema. 

Os piores embates se revelam não necessariamente dentro das paredes da penitenciária, mas nas mesas de reunião com os seus iguais e com os políticos e seus representantes, onde vários interesses particulares parecem se impor sobre a agenda pública. Ainda assim, o novo diretor consegue resultados que vão garantindo sua permanência. A coisa desanda quando Brubaker começa a investigar a possível existência de um cemitério clandestino na região onde supostamente dezenas de prisioneiros jazem enterrados. A missão se torna um braço de ferro que pode custar sua carreira e vida, arriscando o respaldo do Governador e ainda o colocando em situação de conflito até mesmo com a única pessoa que o apoiava, Lilian Gray (Jane Alexander), assessora política e também defensora da reforma no sistema penal. 

O longa é baseado em uma história real retratada no livro “Accomplices to the Crime: The Arkansas Prison Scandal” de Murton e Joe Hyams, que conta a experiência de Thomas O. Murton ao tentar reformar um presídio no Arkansas. A adaptação recebeu indicação do Oscar de melhor roteiro original.

Brubaker soa como uma peça remanescente da Nova Hollywood, um filme corajoso, com cenas tão brutais quanto seu tema exige, espinhoso, com consequências duvidosas e final incômodo escancarando um tipo de realidade que a maioria das pessoas prefere manter distante. 

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Brubaker (1980)
Diretor: Stuart Rosenberg
Elenco: Robert Redford; Jane Alexander; Morgan Freeman
Gênero: Drama
Duração: 2h11min