Esta talvez seja a história de casa mal assombrada mais famosa do mundo. Muita dessa fama se deve à produção cinematográfica de 1979, Horror em Amityiville, a qual se seguiram várias outras continuações, adaptações e remakes que, se não foram felizes, ajudaram a reavivar o caso de tempos em tempos. Em uma pesquisa rápida, contei 12 títulos, e ainda há planos para mais.
Um dos fatos que deixa as pessoas mais atraídas pela história da casa localizada no número 112 da Ocean Avenue em Amityville, é que o caso envolve um acontecimento real. Em novembro 1974, o lugar foi palco de uma chacina ao estilo Estados Unidos. Um jovem de 23 anos, Ronald DeFeo, assassinou todos os ocupantes da casa, sua própria família, com tiros de rifle enquanto dormiam. Ronald disse ter sido guiado por misteriosas vozes que habitavam o lugar. Uma influência demoníaca o teria manipulado.
“George logo entendeu o porquê: em todas as paredes do corredor havia manchas verdes gelatinosas, que escorriam do teto até o chão e se acumulavam em cintilantes poças de lodo esverdeado.”
O caso repercutiu e levantou várias questões. Por que ninguém na casa acordou com os primeiros disparos? Por que os vizinhos não ouviram nada de anormal? E, principalmente, o que levaria alguém a tomar uma atitude como aquela? A imaginação popular se deixou levar auxiliada pelo sensacionalismo da mídia, especialmente quando outra família apareceu afirmando que havia sim algo anormal no lugar.
Em 1976, dois anos após a chacina, os Lutz, a princípio desavisados, compraram a residência. Cerca de um mês após a mudança, fugiram desesperados, alegando a ocorrência de acontecimentos inexplicáveis e aumentando a aura de horror ao redor da região. No ano seguinte, em 1977, Jay Anson lançava o livro The Amityville Horror – A True Story, relatando, dia a dia, o sofrimento da família Lutz no interior da residência amaldiçoada. Como o subtítulo alardeava, a história foi vendida como um caso real de assombração e logo se tornaria base para o primeiro filme sobre a casa amaldiçoada. Algo bastante lucrativo para todos os envolvidos.
“Estava prestes a fechar o roupão quando sentiu que alguém contemplava sua nudez. A sensação dessa presença vinha de trás dela, mas Kathy não tinha coragem de se virar e olhar. Sabia que a parede com os painéis de espelho estava ali e temia ver o reflexo de algo terrível. Paralisada de medo, nem sequer era capaz de levantar os braços e cobrir o corpo com o roupão.”
Relançado no Brasil pela editora DarkSide, o livro de 240 páginas ainda se mostra capaz de proporcionar uma leitura arrepiante. Os 28 dias nos quais a família Lutz permaneceu na residência são perpassados como se o próprio autor tivesse estado lá. A história se alterna entre as vivências de George e Katheleen Lutz e seus três filhos, e o padre Frank Mancuso, chamado para abençoar a casa após a mudança.
Durante a cerimônia, o padre ouviu uma voz ordenando que saísse. Depois disso, passou a ser acometido por febres persistentes, lesões parecidas com queimaduras que surgiam em suas mãos e o odor de fezes humanas em seu cômodo. A cada tentativa de se comunicar com os Lutz, seus sintomas se agravavam.
“George olhou para Missy, que apontava para uma das janelas. Seu olhar seguiu o dedo indicador da menina e ele tomou um susto. Encarando-o por uma das vidraças, havia dois olhos vermelhos e chamejantes! Nenhum rosto, apenas os olhinhos maldosos de um porco!”
Enquanto o padre sofria assustado e calado, os novos moradores de Amityville começavam a ter seus próprios problemas. Frio intenso no interior da casa, mesmo com o aquecedor ligado, objetos que retornavam mesmo após jogados no lixo, pegadas de algo desconhecido na neve e o comportamento estranho do cachorro foram alguns dos primeiros indícios de que algo maligno estava ali, junto deles.
A descoberta de uma sala secreta no porão, pintada de vermelho, e a presença de um poço embaixo da casa disparam mais alertas à medida que os fenômenos se tornavam cada vez mais físicos e ameaçadores, como o surgimento de um líquido esverdeado nas paredes, ferimentos inexplicáveis pelo corpo de Kathy, e até toques físicos de entidades invisíveis. O psicológico de George parecia também estar sendo afetado pelo ambiente, se tornando mais instável, irritado e desleixado para consigo mesmo e sua família.
“Os especialistas realizaram a primeira das três sessões mediúnicas às 22h30. Presentes ao redor da mesa estavam Lorraine Warren, uma clarividente; Ed, um demonologista (…)”
Deixando de lado toda a lógica e matérias desmentindo os relatos da família, trata-se de uma leitura instigante para os aficionados pelo horror. As descrições dos fenômenos são capazes de deixar impressões duradouras do tipo que nos fazia ficar com medo de percorrer o caminho entre a cozinha e a sala após uma noite de leitura.
Realidade ou ficção, a fachada da casa, com janelas que parecem olhos, se tornou, assim como a máscara de Jason, a de Michael Myers ou os pregos cravados na face de Pinhead, um símbolo imortal do terror na cultura pop.