Baseado em uma história real, The Best of Enemies (até o momento sem título nacional) narra o embate entre um líder de uma célula da Ku Klux Klan e uma ativista pelos direitos da população negra ocorrido em 1971 em Durham, Carolina do Norte.
Quando acontece um incêndio na escola primária onde a população negra estuda, surge um problema que irá precipitar os ânimos da região. Enquanto os reparos não são realizados, a opção mais prática é integrar os estudantes em uma mesma escola, o que significa o fim de uma segregação racial vigente. Os políticos do local, todos brancos, não aceitam. Com a pressão da ativista Ann Atwater (Taraji P. Henson), a situação vai parar no tribunal. Não querendo arcar com as consequências da decisão, o juiz estadual resolve acionar Bill Riddick (Babou Ceesay), uma espécie de apaziguador profissional que tenta resolver situações do tipo por meio de debates públicos organizados e votação de pessoas que representem todos os cidadãos. O que seria uma solução pacífica de conflito leva a um embate entre Ellis e Atwater em uma disputa de egos, ideologias e atitudes que podem causar ou evitar um conflito civil mais grave.
Pela caracterização apresentada das reuniões e dos membros da Klan, impossível não traçar um paralelo como o recente Infiltrado Na Klan (BlacKkKlansman, 2018) do Spike Lee. Os cidadãos que participam do grupo são trabalhadores de classe média para baixo, com pouca instrução, conservadores com ilusão de grandeza, pessoas que se sentem os guardiões da comunidade. Trabalham, cuidam dos seus, trocam observações racistas em mesas de bares, praticam tiro e se preparam para um possível e sonhado combate contra comunistas e negros. Vez por outra praticam atividades violentas, como descarregar armas contra a casa de uma mulher branca que ousou manter um relacionamento amoroso com um homem negro.
Apesar do tema e dos acontecimentos, o filme é leve durante a maior parte do tempo, talvez pelo comportamento caricatural dos racistas ou pelas tiradas fortes da ativista que desnuda as atitudes ridículas e vergonhosas dos antagonistas. Há apenas um momento em que a violência física vai além, fazendo ferver o sangue da audiência, quando dois “guerreiros do orgulho branco” invadem a casa de uma mulher para ameaçá-la. Uma cena que desnuda toda a torpeza e vilania de que podem ser capazes os membros da Klan para manter o status quo que defendem, de segregação racial e social, preconceito e desigualdade.
O personagem de Sam Rockwell guarda semelhanças com o policial Dixon de Três Anúncios Para Um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, 2017), no que tange à limitação intelectual e racismo incorporado. Aqui, C.P. Ellis é dono de um posto de gasolina que só abastece para brancos, líder admirado de uma comunidade local da Klan e pai amoroso, apesar de suas limitações intelectuais e financeiras. O que seria o vilão do longa se torna na verdade o personagem mais interessante, pois é justamente ele que vai ter um ciclo de desenvolvimento profundo no decorrer da história. O filme dá uma oportunidade para conhecer como se forma e se constitui um pensamento racista naquela realidade e como opera o sistema de pressão de grupos, formatando e exigindo concordância uniforme e unilateral de seus membros.
The Best of Enemies é uma história inspiradora de duas pessoas comuns que desafiaram as convenções sociais de sua época. Uma mulher solteira, negra, que teve coragem de se opor abertamente a autoridades racistas, e também a de um homem branco que conseguiu quebrar as correntes sociais que aprisionavam seu coração e mente para agir segundo sua própria consciência, dando as costas a valores em que acreditou durante toda sua vida.
The Best of Enemies (2019)
Gênero: Drama
Diretor: Robin Bissell
Elenco: Taraji P. Henson; Sam Rockwell; Babou Ceesay
Duração: 2h13min