No México da década de 1920, Dobbs (Humphfrey Bogard) é um americano vivendo na cidade de Tampico. Sem nenhum tipo de perspectiva além de mendigar dinheiro a conterrâneos para garantir a próxima refeição ou um pernoite sob um teto, aceita uma oferta de emprego braçal para construir um acampamento no meio de uma floresta. Ao final do empreendimento, recebe um calote do empregador.
Junto a um novo amigo que compartilha da mesma situação de miséria, Curtin (Tim Holt), encontra um velho garimpeiro em um albergue que garante encontrar jazidas de ouro no interior do país. Howard (Walter Huston), Curtin e Dobbs então firmam sociedade e partem para as montanhas em busca do sonho de riqueza.
A apresentação da vida de Dobbs como mendigo em uma cidade estrangeira hostil para gringos pobres é sufocante. Incapaz de trabalhar até como engraxate para não ser hostilizado pelos mexicanos que não toleram competição, resta apenas a pura mendicância apelando para o sentimento de outros americanos. Apesar da dureza da realidade retratada, o filme ainda se permite pequenas pitadas cômicas, como quando o sujeito chega a pedir, por puro acaso, dinheiro ao mesmo homem três vezes no mesmo dia, recebendo uma reprimenda acompanhada por uma pequena “fortuna” em moedas. Esse tipo de leveza pontual volta a aparecer em alguns momentos do longa permitindo um alívio ao espectador em meio a tanta aridez e sujeira física e espiritual.
A introdução funciona para apresentar o caráter do então protagonista, um homem humilde, que se envergonha de sua situação de vagabundo, evitando encarar a face das pessoas enquanto pede moedas para uma refeição. Não se nega a trabalhar duro e a lutar para conquistar algo quando surge uma oportunidade, é um homem de fibra. Esse Dobbs que conhecemos na primeira metade do filme vai sofrer uma transformação à medida em que a febre do ouro se apossar de sua mente.
O garimpo é uma das atividades mais insalubres e perigosas da história da humanidade, seja pelo trabalho árduo em si, pelas ferramentas e estruturas precárias ou o isolamento da civilização. Maquiavel dizia que os homens matam por duas razões: honra ou dinheiro. Imagine então homens isolados em regiões ermas, expostos ao clima, à solidão, ao medo e finalmente a uma fortuna em ouro, catalisando todos os elementos capazes de transformarem alguém honrado em um potencial assassino.
Além do perigo interior, o demônio que habita em cada homem, há os perigos exteriores que assumem as formas de bandidos, índios ou até de acidentes de trabalho que são comuns em atividades de mineração. O diretor John Huston não deixa de explorar nenhum desses elementos ao longo do filme.
As dificuldades que o trio irá enfrentar iniciam já no trem rumo às montanhas, quando um grupo de bandoleiros ataca o veículo. Os companheiros reagem em uníssono, participando do tiroteio de resistência. Essa união inicial apresentada aqui, que garantirá o sucesso da empreitada, será quebrada a medida em que a sorte e a fortuna se apresentarem aos três.
São vários os desafios a serem enfrentados mas, dentre eles, o momento de maior tensão é o surgimento de um novo sonhador, Cody (Bruce Bennet), outro americano que encontra o acampamento e se impõe como parceiro de negócios. Chegar sozinho em um garimpo onde três desconhecidos extraem ouro mostra o tamanho do desespero de alguém ansioso por sair da miséria. Dobbs, Howard e Curtin têm de tomar uma decisão sobre qual atitude adotar em relação ao penetra, um dos momentos mais tensos do longa.
A película ressalta a sujeira, o calor, a imundície dos ambientes, da pele e da alma dos homens. O filme o tempo inteiro transpassa para o espectador o quão desconfortável é aquela vida, seja na cidade, na montanha ou nos vilarejos paupérrimos do interior do México. Vida precária, poeirenta, suada. Lembra obras de Sam Peckinpah, e não é à toa que o filme serviu mesmo de referência para o poeta da violência, em Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch, 1969)e Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia (Bring Me The Head of Alfredo Garcia, 1974). O Tesouro de Sierra Madre é citado por diretores como Stanley Kubrick, Sam Raimi e Paul Thomas Anderson como inspiração.
Baseado no livro The Treasure de B. Traven, O Tesouro de Sierra Madre foi um dos primeiros longas hollywoodianos a serem filmados fora dos Estados Unidos, gerando dores de cabeça extra para a Warner. Assim que começaram as primeiras gravações em Tampico, o governo local interveio na produção, paralisando os trabalhos. A equipe simplesmente não recebeu nenhuma explicação, mas depois veio a descobrir que fora por conta de uma matéria em um jornal local que acusava o cineasta de estar fazendo um filme que denegria o México. A confusão só foi desfeita quando conseguiram a intervenção do próprio presidente do País.
O caso era que o editor do tal jornal agia como uma espécie de gangster, esperando receber alguma propina para não atrapalhar nenhum negócio na cidade. Algumas semanas após resolvida o entrave, o tal diretor foi pego em flagrante com uma mulher casada, sendo assassinado pelo marido dela.
O final amargo não era próprio para as produções da época, o que levou Jack Warner a acreditar que o público não iria gostar. Acertou. Apesar de tudo, o sucesso de crítica salvou o longa financeiramente. Diria que a conclusão foi agridoce, muito graças ao ótimo espírito do personagem Howard.
O longa concorreu ao prêmio de Melhor Filme, mas levou as estatuetas de Melhor Ator Coadjuvante para Walter Huston, Melhor Diretor e Melhor Roteiro para John Huston, pai e filho.
Cenas memoráveis:
Poderia ajudar um colega americano? Dobbs, envergonhado, se aproxima de conterrâneos e, cabeça baixa e com voz discreta, pede dinheiro para uma refeição.
A febre do ouro: o que seria apenas mais uma noite no acampamento se torna um presságio do que acontecerá entre o grupo. Um a um deixa o acampamento para verificar se o ouro que esconderam continua no mesmo lugar.
Julgamento: A chegada no acampamento de um americano que insiste em trabalhar no garimpo, leva o trio a discutir que decisão tomar a respeito, aceitar, mandar embora ou matar o estranho?
Cerco: um grupo de 12 bandoleiros cerca o acampamento, levando o grupo a uma resistência desesperada para garantir o ouro que já escavaram da mina.
O Tesouro de Sierra Madre (The Treasure of The Sierra Madre, 1948)
Diretor: John Huston
Gênero: Drama
Elenco: Humphfrey Bogart; Walter Huston; Tim Holt
Duração: 2h6min