Esse é um filme sobre vampiros espirituais. Seres solitários, ressentidos e angustiados que sugam as energias de outros, de pessoas que se aproximam por pena, curiosidade ou puro acaso e têm suas vidas destruídas ou prejudicadas de alguma forma. Uma classe de sociopatas que não são profissional e sentimentalmente bem sucedidos.

A nova professora de artes, Sheba Hart (Cate Blanchet), chama a atenção da escola, especialmente de uma veterana do quadro docente, Barbara Covert (Judi Dench), uma senhora fria, taciturna, com fama de durona, temida pelos alunos e evitada pelos colegas. Barbara passa a observar a novata, tentando descobrir uma forma de se aproximar, uma porta para entrar em sua vida. A princípio, parece que o objetivo é satisfazer uma curiosidade pessoal, mas evolui para um propósito de amizade que parece esconder um desejo mais íntimo. O relacionamento das duas professoras, a princípio amistoso e sincero, evolui para um jogo perigoso de poder e dominação quando Barbara descobre que Sheba mantém um relacionamento sexual com um de seus alunos.

Baseado em um livro de Zoe Heller, a trama se torna um drama intenso que apresenta uma situação que envolve traição, crime e costumes sociais em uma teia de acontecimentos que explora o desespero dos envolvidos quando seus atos secretos, seus desejos íntimos, são revelados ao mundo, com todas as consequências que isso traz.

O filme é conduzido com narração em primeira pessoa pela personagem Barbara, o que permite um mergulho em sua psique. Uma mulher já próxima da aposentadoria, aparentemente sem família, parentes ou amigos que, mesmo assim, se acha superior a todos ao seu redor, os julgando do conforto de sua mente isolada, sem permitir a aproximação de ninguém que não seja com propósitos de manipulação. Em alguns momentos, ela seria digna de pena, mas carrega dentro de si uma crueldade que não se sabe se foi construída devido a fatores externos, pelos fatos da vida ou já cresceu em seu íntimo. Ela registra em diários todas as impressões do que acontece ao seu redor, especialmente das pessoas com quem convive, no caso, colegas do trabalho, como se as estudasse, medindo seus interesses e fraquezas.

As protagonistas não são de fato mulheres inocentes, apesar de a gravidade de seus crimes e violações das regras sociais gerarem uma discussão interessante sob vários pontos de vista. Sheba é uma mulher casada com um homem mais velho, Ted (Tom Georgeson) com quem tem 2 filhos, um deles com síndrome de down. Após anos vivendo apenas para a família, em uma rotina doméstica exaustiva, decide voltar a trabalhar. Fora do casulo do lar, ela parece perceber que suscita sentimentos diversos no público masculino, sejam alunos ou professores, e termina por se entregar ao desejo de um adolescente, Steven (Andrew Connolly), em uma espécie de crise de meia idade.

A história é valorizada por uma atuação intensa de Dench e Blanchett em conjunto à condução correta do diretor Richard Eyre, que consegue construir tensão antes de momentos de alta carga dramática. De forma geral, os coadjuvantes são apresentados como seres mesquinhos e invejosos, onde cada desejo não correspondido leva a uma retaliação. A catarse coletiva provocada pelo julgamento moral da personagem é enfatizada pela presença da imprensa, querendo sorver e apresentar todos os aspectos do caso, conduzindo a opinião pública. Notas Sobre um Escândalo é um drama realístico que não se furta a apresentar temas polêmicos e protagonistas imperfeitas.

Notas Sobre um Escândalo (Notes on a Scandal, 2006)
Gênero: Drama
Diretor: Richard Eyre
Elenco: Cate Blanchett; Judi Dench
Duração: 1h32min