Mulheres do Século 20 – Feminismo, punk rock e educação comunitária

A época é o final de década de 1970, quando os Estados Unidos eram um caldeirão multicultural efervescente, mas quando o caldo já estava em vias de esfriar. As minorias foram às ruas e tentaram mudar o mundo. Negros, gays, hippies e mulheres. O país tinha saído de uma guerra devastadora, mas o conflito nuclear ainda era uma ameaça real e boa parte dos americanos apontava o próprio governo como o verdadeiro inimigo.

Nesse cenário turbulento, uma mãe divorciada tenta passar para o filho adolescente valores que o tornem um homem acima da média, um modelo adaptado de novo silvícola, um cidadão decente para os novos padrões. Um filhinho da mamãe dos últimos anos do século 20.

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Jamie (Lucas Jade Zumann) é um garoto sem pai entrando na rebeldia da adolescência na época mais rebelde de todas, o que deixa Dorothea (Annete Bening) preocupada, embora o guri nem tenha demonstrado indícios de ser um verdadeiro problema.  Na casa deles ainda moram Abbie (Greta Gerwig) e William (Billy Crudup), em um sistema de pensionato para ajudar no financeiro em tempos econômicos difíceis.

Baseada em um conceito copiado de algumas sociedades, Dorothea pede ajuda aos seus inquilinos para ajudarem com o guri durante as transformações turbulentas da adolescência. Um tipo de educação comunitária. E assim todo mundo tenta colocar alguma ideia na cabeça de Jamie.

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Fora a mãe e os inquilinos, ainda há Julie (Ellie Fanning), uma amiga mais velha que, na calada da noite, se enfia na cama de Jamie para dormir. Uma tremenda de uma friendzone se forma, revolvendo ainda mais os hormônios do moleque. Julie, entre os lençóis, conta seus intercursos sexuais famélicos com típicos desconhecidos de uma noite só ou conhecidos que valem ainda menos, o que deixa Jamie angustiado e confuso.

Dorothea apesar de aparentar ter uma postura aberta para as novidades do mundo, ainda é muita careta. Até tenta se mostrar progressista, mas se assusta fácil com o mundo moderno, chegando a entrar em conflito com outros personagens, especialmente com Abbie. A fotógrafa é totalmente desenrolada nas manhas do feminismo e da melhor música do passado recente, como Lou Reed e os Talking Heads. O problema é que a coitada está enfrentando um câncer.

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Rola até um triângulo sexual/amoroso entre Abbie, Dorothea e William, um cara totalmente da paz e do amor. Dorothea, Abbie e Julie são representantes das Mulheres do Século 20 do título. Porém, elas pertencem a gerações diferentes, e até se identificam com culturas diferentes, o que acaba causando algumas discordâncias entre si. Esses contrastes entre elas enriquece o filme, permitindo destacar e desenvolver os personagens, proporcionando bons diálogos e situações cotidianas conduzidas de forma interessante, ainda que a narrativa pareça um pouco lenta.

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Dorothea é a mãe de família que tenta passar algum tipo de educação tradicional para o filho, ainda que tente ser aberta aos novos tempos. Abbie é uma feminista convicta, independente, com algumas neuroses, problemas familiares e de saúde. Mesmo assim é a que se mostra mais à vontade em se movimentar pelo turbilhão caótico do submundo cultural americano. Julie, apesar do ar blasé, é pouco mais que uma adolescente insegura que também não sabe exatamente qual seu lugar no mundo e quais decisões tomar.

A personagem de Dorothea é baseada na mãe do diretor e roteirista, Mike Mills. Aliás, segundo o próprio, o filme é autobiográfico, retratando parte de sua juventude e das pessoas que influenciaram seu caráter. Isso explica o ar de uma HQ autoral do filme, dessas que seriam publicadas por aqui pela editora Nemo ou Mino.

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Mulheres do Século 20 possui um tom mais de comédia que de drama. Suave mesmo quando desponta para acontecimentos dramáticos, como a doença de uma das protagonistas. Aborda conflitos entre gerações e a confusão da juventude e suas descobertas. Tem como mote a passagem do tempo, inclusive sendo narrada pelo próprio Jamie (pode-se dizer que pelo próprio diretor, uma vez que se trata de uma parte de sua história).  É um retrato em movimento de um momento no tempo, de pessoas diferentes que se encontraram em determinado ponto, conviveram, trocaram experiências e seguiram em frente, como acontece na vida de qualquer um.

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Mulheres do Século 20 (20th Century Women, 2016)
Gênero: Drama/Comédia
Direção: Mike Mills
Duração: 1h59min