Kedi – Um documentário turco sobre gatos de rua

Um documentário turco sobre gatos de rua se tornou a surpresa do ano até o momento em arrecadação ao redor do mundo.

Kedi é sobre sete gatos entre milhares de felinos que perambulam pelas ruas de Istambul e sua relação com as pessoas que os alimentam e dão abrigo ocasional. São eles: Sari – a trabalhadora; Bengu – o amante; Psikopat – o psicopata; Deniz – o alpinista social; Aslan Parçasi – o caçador; Duman – o cavalheiro; Gamsiz – o jogador. Cada um possui uma personalidade distinta e habilidades que os ajudam a sobreviver e conquistar os moradores da cidade.

O documentário, claro, é irresistivelmente atrativo para os amantes de gatos, mas não se trata apenas de sequências de imagens de felinos para satisfazer os olhos dessa parcela do público. O filme traça uma narrativa capaz de prender o interesse de qualquer pessoa minimamente curiosa sobre culturas estrangeiras, história, psicologia e antropologia, com um roteiro inteligente que conecta a cidade, os cidadãos e os bichanos, apresentando como se relacionam entre si e o impacto transformador desse relacionamento.

Até o momento deste artigo, o documentário já arrecadou $ 2.810.000 ao redor do mundo e vem se estabelecendo como a terceira maior bilheteria de um documentário em língua não inglesa de todos os tempos, perdendo apenas para Bebês (Babies, 2010) e Pina (2011). E estamos falando de uma produção independente sobre felinos turcos de rua.

O filme marca uma avaliação de 98% no Rotten Tomatoes e conta com nota 7.8 no IMDb. A produção foi premiada no Istanbul Independent Film Festival antes de ser exibido em festivais de cinema nos Estados Unidos, Austrália e Canadá. O segredo de tanto sucesso não é apenas a imagem dos felinos e a paixão dos seus amantes. Kedi vai além disso, explorando a compaixão dos moradores da cidade e o efeito benéfico da presença dos gatos em suas vidas.

A empresa que adquiriu os direitos de distribuição do documentário nos Estados Unidos, a Oscilloscope Laboratories, percebeu o potencial que tinha em mãos e tratou de esperar o momento certo de lançá-lo, em Fevereiro de 2017. Kedi estreio em uma única sala de cinema em Nova York e depois começou sua jornada pela América, sempre com um bom retorno, comprovando que tinha público para sua proposta. Logo, estava em 150 salas de cinema.

Muitos diretores têm como regra evitar trabalhar com crianças ou animais. Imagine então aceitar filmar um bicho tão teimoso e folgado quanto um gato, que passa a maior parte do tempo dormindo. Gatos são criaturas selvagens, ariscas e bastante difíceis de rastrear, além de não serem bem conhecidos por gostarem de cooperar.

A cineasta Ceyda Torun mesmo assim resolveu encarar esse desafio, e isso em seu primeiro longa metragem. Ela conseguiu localizar sete bichanos com personalidades bem distintas que escolheram diferentes pontos das ruas de Istambul como lar, cuidando e sendo cuidados por alguns de seus habitantes, tudo isso pelo ponto de vista dos próprios gatos. O filme esclarece os laços especiais que unem os felinos e as pessoas, um tornando a vida do outro melhor de alguma forma.

Primeiramente, Torun é uma das habitantes de Istambul que adora os felinos, tendo crescido em meio a eles, seus melhores amigos de infância, segundo ela. O conceito de kedi começou a tomar forma a partir da decisão dela e do marido, o cinegrafista Charlie Wuppermann, de fundarem uma produtora para fazerem filmarem apenas suas próprias ideias e paixões.

“Durante nossa pesquisa para as filmagens, percebemos que os relacionamentos entre os gatos e as pessoas e o que elas falavam acerca deles eram coisas universais. Transcendia as pessoas e até mesmo os gatos. Era algo maior. Ficou claro que era dessa maneira que deveríamos fazer o documentário”, comentou a diretora.

Para encontrar as estrelas do filme, a equipe saiu pelas ruas perguntando às pessoas se conheciam algum gato em especial, um que fosse conhecido por vários moradores, porque queriam enfatizar a questão de que gatos reconhecem sim as pessoas. Ao final das gravações, haviam capturado histórias de 19 felinos, mas apenas 7 apareceram na edição final como elenco principal.

Para não ficar apenas no foco dos gatos, a diretora ainda acrescentou fatos históricos sobre a cidade. “Conversamos com arquitetos, arqueologistas, filósofos, professores de todo tipo e psicólogos. Vários não entraram no filme, ainda que algumas falas deles tenham sido utilizadas.”

As gravações duraram oito semanas. Com um calendário apertado e uma equipe reduzida, cada momento era importante para conseguirem captar de forma natural o dia a dia dos gatos. Ainda sobre as dificuldades das filmagens, Torun comentou: “O grande desafio foi ter de estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. Sempre recebíamos ligações dizendo ‘Tabby está aqui, aquele gato que eu te falei’, e a gente ia pra lá e o gato já tinha ido embora. Acho que só parávamos de filmar quando estávamos dormindo”.

Kedi (palavra turca para “gato”) está disponível pelo YouTube Red. Confira o trailer abaixo:

 

Gatos (Kedi, 2016)
Diretora: Ceyda Torun
Gênero: Documentário
Duração: 79 min