No livro O Príncipe, de Maquiavel, o autor aponta que, duas pessoas seguindo o mesmo caminho, uma delas alcança seu objetivo, a outra, não. Malcolm X, Martin Luther King e Fred Hampton tinham basicamente o mesmo objetivo. Embora tenha seguido por caminhos diferentes, tiveram o mesmo fim: foram assassinados.
Judas e o Messias Negro apresenta a história de Fred Hampton (Daniel Kaluuya), um jovem de apenas 20 anos que se tornou um dos principais membros do Partido dos Panteras Negras, um grupo de ativistas surgido na década de 1960 na Califórnia, Estados Unidos. O protagonismo do longa é dividido com William O’Neal (LaKeith Stanfield), que ganhou a confiança de Hampton se tornando chefe de segurança do partido. Um foi marcado pelo governo americano como potencial “messias” da comunidade negra, alguém com potencial para unir pessoas energizando o movimento militante que pressionava por direitos e igualdade racial. O outro foi ameaçado e seduzido pelas autoridades para ser o traidor, justificando o título que o longa.
Além de ameaça de prisão e oportunidade de pagamento, o agente do FBI Roy Mitchell (Jessse Plemons) convence O’Neal de que estará servindo ao seu país, à justiça. Mitchell lança o argumento da falsa simetria, tentando convencer que, na verdade, a Ku Klux Klan e os Panteras Negras são organizações iguais, ambas milícias sectárias que usam da violência para estabelecer seu poder, desafiando a lei e matando inocentes.
A ascensão de Hampton dentro do Partido foi meteórica. Começara a costurar uma aliança entre a gangue dos Crows, dos Latinos e até mesmo com sulistas saudosistas da bandeira dos confederados. Esclarece que todos esses grupos são formados por pobres, por gente excluída por uma sociedade sectária, apontando que a gênese do preconceito não é apenas racial, mas também está atrelada à exclusão social e a questões econômicas. Propõe não uma luta individualizada, mas conjunta, reunindo as forças de todos os grupos marginalizados.
Se seu diagnóstico se mostra correto, sua linha de ação facilita a eclosão de atos de violência que conflagram uma verdadeira guerra ao mesmo tempo secreta e explícita entre o governo dos EUA, representado pelo FBI e a polícia, e os Panteras Negras. Pessoas envolvidas com o Partido participaram de ações violentas contra policiais, resultando em assassinatos e aumentando o grau de reação. O longa mostra um intenso confronto armado entre Panteras e a polícia, resultando em um incêndio na sede de Chicago, base de Hampton.
O filme, sob a direção de Shaka King, não tenta amenizar a história para um dos lados. Não é necessário. Hampton é apresentado como alguém com uma pauta genuína e com intenções altruístas, típicas de um jovem idealista. Em um ambiente onde a violência, física e psicológica, e opressão são diárias, impossível controlar a reação de todos os membros da comunidade. Os Panteras Negras assumem a composição de uma organização paramilitar, andando armados, com roupas padrão e adotando postos de comando. Quando você é alvo de autoridades que não se importam em seguir leis e regulamentos, não dá para impedir reações explosivas dos oprimidos.
Cenas Memoráveis
01. Uma falsa simetria. O agente do FBI Roy Mitchell recebe O’Neal em sua própria residência, estreitando seu relacionamento com o informante. Mitchell diz ser a favor da igualdade racial, mas aponta que não pode ser alcançada da maneira que os Panteras Negras articulam. Então diz que o Partido e a Klan são iguais.
02. Guerra. Membros dos Panteras Negras resolvem reagir às provocações de policiais em frente à sede do Partido e iniciam um intenso confronto armado no melhor estilo western.
03. Massacre. Em uma armadilha arquitetada pelo FBI com o auxílio de O’Neal, policiais invadem a casa onde Fred Hampton está.
Judas e o Messias Negro (Judas and the Black Messiah, 2021)
Direção: Shaka King
Gênero: Drama
Elenco: Daniel Kaluuya, LaKeith Stanfield, Jesse Plemons
Duração: 2h6min