Imaculada: terror simplório tenta se sustentar na crítica ao fanatismo religioso

Cecília (Sydney Sweeney), uma jovem americana, viaja para a Itália, onde se tornará uma freira em um convento localizado em uma região rural isolada. Pouco após declarar seus votos, a jovem garota se vê grávida, apesar de não ter tido nenhuma relação sexual. 

Os líderes religiosos do local encaram o fato como um milagre, uma gravidez imaculada que trará o salvador da humanidade de volta. Assim, a garota é cercada de cuidados, mas logo percebe que na verdade está em uma espécie de prisão e que sua vida corre perigo. 

O diretor Michael Mohan já havia trabalhado com Sweeney em seu último longa, o recente Observadores (The Voyers, 2021), um tipo de suspense urbano que não se esquivou em mostrar o corpo da atriz. 

Como foi a própria Sydney quem resolveu viabilizar o projeto Imaculada, pareceu natural indicar para a direção alguém em quem confiasse. Porém, dessa vez o resultado pode não ter sido dos melhores, incluindo sua própria atuação.  

Imaculada é um terror que tem como tema central o fanatismo religioso. Os representantes da igreja católica são apresentados em um primeiro momento como pessoas altruístas que resolvem dedicar suas vidas à adoração ao Senhor e a ajudar pessoas necessitadas. O convento seria um local de paz, de cuidado e de proteção, mas uma interpretação extremista revela os religiosos como fanáticos que justificam qualquer tipo de violência em nome de um suposto bem maior. Na história da humanidade foi assim e, na história contemporânea, continua sendo assim. 

Cecília é a jovem ingênua, cuja pureza e vulnerabilidade chamam a atenção do mal, a tornando uma presa fácil para figuras de autoridade manipuladoras que possuem seus próprios planos e definições de credo, fé e sacrifício. Em um convento isolado, longe de seu país, sem família, a garota ao invés da paz que tanto procurava, encontrará dor e insanidade. 

A comparação com A Primeira Profecia (The First OMen, 2024) é inevitável pelas similaridades da trama e também pela pouca distância entre as estreias. Quase daria para fazer uma sessão dupla nos cinemas. Na disputa entre as duas noviças, A Primeira Profecia se sai levemente melhor em todos os campos, incluindo até o prêmio de atriz mais histriônica, ou scream queen, para a Nell Tiger Free. 

A diferença básica entre os dois filmes é que, enquanto A Primeira Profecia apela para o terror sobrenatural, Imaculada não possui nada do outro mundo, a não ser a inexplicável resistência e força descomunal de alguns fanáticos religiosos. 

Imaculada poderia ter sido mais bem-sucedida se fosse em direção a um body horror, com a criança indesejada crescendo em seu ventre e deformando seu corpo, mas esses efeitos da gravidez são apenas pontuais. A trama em vários momentos além de desafiar a lógica, tem furos tolos, como quando os responsáveis pelo convento afirmam que o médico do local não pode ser localizado nos finais de semana, mas logo em seguida usam telefones celulares para se comunicarem. 

Em sua reta final o filme se assume quase que como um “rape and revenge” e finaliza com uma decisão até certo ponto corajosa, em termos de brutalidade, mas que àquele momento já não era mais capaz de impressionar uma audiência em estado comatoso, muito por culpa da falta de profundidade da trama e do pobre desenvolvimento dos personagens, especialmente da protagonista. 

Não sabemos de Cecília praticamente nada, só a vemos como uma garota doce e inocente sendo utilizada impiedosamente em um experimento louco, no qual a submetem a várias torturas, além, claro, da barbaridade da gravidez forçada. 

Essa acaba sendo a falha da maioria dos filmes de terror, restando apenas apelar para a violência gráfica para satisfazer o público, se tornando mais um passatempo adolescente que um filme com mais camadas. 

Imaculada é afinal um terror simplório que apenas tenta ser significativo na crítica ao sacrifício cristão e ao fanatismo religioso, montado em uma trama insustentável, mas resvala em um slasher classe B. 

Cenas destacadas:

A nova virgem maria: Cecília, após a descoberta da gravidez, é apresentada no monastério como se fosse a reencarnação da virgem Maria. 

Tudo explicado: Agora, uma completa cativa, o padre, como vilão de história em quadrinhos, explica a Cecília toda a verdadeira história por trás de sua gravidez imaculada. A partir deste ponto, a credibilidade do filme irá em queda livre. 

Morte aos Deuses: Coberta de sangue, dela e de outros, Cecília está em um estado primitivo, prestes a cometer um dos maiores pecados cristãos. 

Imaculada (Immaculate, 2024)
Direção: Michael Mohan
Gênero: terror
Elenco: Sydney Sweeney; Álvaro Morte; Simona Tabasco
Duração: 1h29min