O diretor norte-americano Brian De Palma começou a delinear bem seu estilo a partir dos suspenses Irmãs Diabólicas (Sisters, 1073) e Trágica Obsessão (Obsession, 1976). Ambos os filmes apresentaram as características que ele aperfeiçoaria e o levariam a ser considerado, para o bem e para o mal, o sucessor natural de Alfred Hitchcock. Suspenses densos, envolvendo assassinatos, mulheres sensuais, com narrativa formando teias de intrigas que levam os protagonistas a afundarem em dúvidas e emergirem em uma nova realidade.
Nada novo para o gênero, em verdade, mas a maneira como o diretor organiza e explora os acontecimentos é hipnotizante, elaborando cuidadosamente sequências que estendem ao máximo as situações de tensão e brincam com a aflição do espectador, maximizadas por trilhas sonoras envolventes e cenários meticulosamente construídos.
Al Pacino, John Travolta, Tom Cruise, Michael J. Fox, Tom Hanks, Melanie Griffith, Michelle Pfeiffer, Bruce Willis, Kevin Costner e Robert De Niro estão entre alguns dos grandes atores que já estiveram sob o comando de De Palma. O sucesso veio, mas não sem a companhia de pesadas críticas que o classificavam como imitador e condenavam algumas cenas por alto teor sexual e violência em algumas cenas.
Descrevo então 12 cenas marcantes que o ajudaram a ser merecedor do título de mestre contemporâneo do suspense e um dos grandes diretores do cinema, conterrâneo de nomes como Francis Ford Coppola, Martin Scorsese e Oliver Stone.
Carrie – A Estranha (Carrie, 1976)
Quando retorna para casa logo após o fatídico baile, Carrie (Sissy Spacek), banhada em sangue e em estado de choque, encontra velas acesas por todo lugar. Após tomar banho de forma quase robótica, é atacada por sua própria mãe, que tenta matá-la com uma faca, sob a acusação de que Carrie é filha do próprio demônio. O espectador neste momento ainda se encontra atordoado pela brutal sequência do baile de formatura e, quando tomava novo fôlego, surge a morte na tela. Uma construção absolutamente perfeita: a casa com ar macabro, a câmera passeando vagarosamente pelo cenário enfocando ora o desespero de Carrie, ora a expressão de insanidade de sua mãe. Tudo isso embalado por um piano aterrorizante compondo uma espécie de ópera da morte. Diabólico.
Vestida Para Matar (Dressed to kill, 1980)
Durante 10 silenciosos minutos, a aborrecida dona de casa Kate Miller (Angie Dickinson) embarca em uma estranha e sedutora perseguição a um desconhecido dentro das dependências do Metropolitan Museum of Art. Ora perseguidora, ora perseguida, em um jogo de sedução exótico de flerte e enganação. Com uma trilha sonora envolvente, o espectador é conduzido por entre os quadros e as pessoas no interior do museu enquanto absorve a expectativa da personagem. Uma narrativa que transmite ao espectador toda a excitação da personagem.
Um Tiro Na Noite (Blow Out, 1981)
Sally (Nancy Allen) entrega a fita com a gravação do áudio da noite do acidente a um homem que se identifica como o jornalista que Jackie contatara (John Travolta), mas se trata de um assassino profissional enviado para eliminar a testemunha do crime. Jackie tenta localizar a garota por meio dos sons do gravador que está no corpo dela, isso em meio a uma multidão em plena comemoração do Dia da Liberdade na Filadélfia, com bandas marciais, fanfarras, som mecânico e fogos de artifício que encobrem os gritos da garota. Angustiante.
Scarface (Scarface, 1983)
Tony Montana Al Pacino) e seu primo são enganados por traficantes colombianos, que os amarram e os penduram em uma banheira de um quarto de hotel. Então que acontece uma cena que deixaria Leatherface feliz da vida e que provavelmente inspirou o nosso “deputado da moto-serra”, Hildebrando Pascoal. Tony, amarrado, amordaçado e pendurado, vê bem na sua frente seu colega ter a cabeça aberta pela moto-serra. Logo em seguida, será sua vez. Ou seria.
Dublê de Corpo (Body Double, 1984)
Um homem armado com uma furadeira está dentro da casa da mulher que Jake Scully (Craig Wasson) observa todas as noites. Após tentar sufocá-la com o fio do telefone, o maníaco desmaia. Hora de correr para fora da casa ou aproveitar para ligar para a polícia enquanto o assassino dorme? Decisão errada tomada, é sofrer as consequências que envolvem uma furadeira gigante, sangue, desespero e uma linda mulher em roupas íntimas sendo assassinada. Mas o apaixonado Jake tentará chegar a tempo para salvar a garota.
Os Intocáveis (The Untouchables, 1987)
Como em uma cena de faroeste, o policial Elliot Ness (Kevin Costner) enfrenta assassinos profissionais na escadaria da Estação de Trens de Chicago. Uma sequencia em slow motion na qual Elliot tenta sobreviver, eliminar seus inimigos e, ao mesmo tempo, salvar uma criança que despenca escadaria abaixo dentro de um carrinho de bebê.
Pecados de Guerra (Casualities of War, 1989)
Uma garota vietnamita violentada, esgotada psicológica e fisicamente, ensanguentada e gritando de desespero, atravessa vagarosamente uma ponte na qual seus algozes estavam travando batalha. A oportunidade ideal para que os soldados americanos eliminem a prova principal de seus crimes de guerra. Isso se Eriksson (Michael J. Fox) não conseguir impedir.
A Fogueira das Vaidades (The Bonfire of the Vanities, 1990)
Os amantes Sherman McCoy (Tom Hanks) e Maria Ruskin (Melanie Griffith) estão perdidos nas piores ruas do Bronx. Quando McCoy sai do carro para retirar um pneu que está bloqueando a passagem, dois possíveis assaltantes se aproximam calmamente. Um milionário em um local no qual seu dinheiro e influências não valem nada.
O Pagamento Final (Carlito’s Way, 1993)
Dez anos após Scarface, Al Pacino volta a viver a figura de um gângster sob a tutela de De Palma. A grande sequência desta obra prima são vinte angustiantes minutos nos quais um grupo de mafiosos italianos perseguem Carlito (Pacino) pelas ruas de Nova York, Metrô e a estação de trem. A tragédia anunciada já no início do filme não suprime a surpresa do que acontece ao final da sequência.
Olhos de Serpente (Snake Eyes, 1998)
Olhos de Serpente não é um dos filmes mais apreciados na carreira de De Palma mas vou contra a maré de críticas negativas e o avalizo como um ótimo suspense policial. A maneira como a câmera passeia pela tela em várias sequências dá a impressão de que o espectador está caminhando ao lado dos personagens, acompanhando os eventos como um deles. O diretor usa constantemente esse recurso em seus filmes. Destaco aqui os primeiros quinze minutos de filme, onde podemos acompanhar os passos do detetive Rick Santoro (Nicolas Cage) e toda a movimentação que ocorre dentro de um cassino de Atlantic City durante uma luta de boxe, até o apoteótico disparo da arma de fogo e a explosão de caos e confusão que se seguem após o assassinato.
Femme Fatale (Femme Fatale, 2002)
Femme Fatale é estranhamente o meu filme favorito do diretor. Estranho mesmo é uma obra como esta ser relegada como um filme menor. A sedução lésbica, o streap tease seguido da briga no bar, a queda na ponte ou a fuga seguida pelo atropelamento? Ok. Desta vez vou ficar com a sequência do bar. O fotógrafo Nicolas Bardo (Antonio Banderas) observa Lurie Ash (Rebecca Romijn) flertar com um homem em um bar copo sujo barra pesada. Ao seguir o casal para o porão do bar, Nicolas observa Laurie seduzir o estranho. Com um jogo de sombras, Laurie se diverte observando o fotógrafo lutar por ela.
Dália Negra (The Black Dahlia, 2006)
O policial Lee (Aaron Eckhart) segue os suspeitos do assassinato de Elizabeth Short até o interior de um prédio aparentemente vazio. Quando seu parceiro, Dwight (Josh Hartnett) chega ao local, pode apenas assistir enquanto um silencioso assassino se aproxima por trás de Lee e o enforca com um fio em uma morte lenta.