Férias cinematográficas no litoral

Alguns dos melhores e mais esquecíveis filmes de praia para puro escapismo.

Calor, areia, sal, água, corpos seminus e álcool turbinando os hormônios de jovens querendo aproveitar todas as oportunidades no verão de suas vidas. Esses são os elementos imprescindíveis em filmes de praia. Divertidos, descompromissados e cheios de tesão juvenil em um tipo de punhetagem cinematográfica que costumava ser exibida exaustivas vezes na TV aberta, na época das férias escolares. O SBT, com seu Cinema em Casa, era campeão em número de filmes mais safados e impensáveis de serem exibidos hoje nas matinês. No período das férias, a emissora costumava programar semanas temáticas na sessão, como terror, comédia e ação. Era o melhor do pior. Atualmente, o comum é algum filme de golfinho ou de cachorro surfista.

Nem tudo é curtição e pegação. A praia pode ser cenário de filmes de ação sérios, aventuras e de dramas românticos mais adultos. A lista a seguir aponta algumas produções que têm areia, sal e água como principais elementos de cenário. Não são os melhores, mas talvez sejam os mais lembrados e representativos. Nessa época de férias, enquanto você amarga o alto da estação do verão cozinhando dentro de um cubículo 4×4, tentando sobreviver à incontrolável suadeira intensificada pelo mormaço do asfalto e reforçada até pelos raios lunares, rodeado pelo conglomerado de aço e concreto da civilização, o mínimo que você pode fazer é tentar enganar a mente com imagens de belas praias e corpos seminus.

PRIMAVERA NA PELE (Spring Break, 1983)


Bem vindo a Fort Lauderdale, onde 250 mil jovens vão curtir todos os anos durante as férias escolares de verão. O filme promete o tal “verão de suas vidas”, com concursos de camiseta molhada, muita cerveja derramada e amor fácil e abundante. Dois caras descolados se descobrem hospedados no mesmo quarto de dois nerds, mas entendem que o paraíso é para todos e resolvem juntar forças. Não posso confirmar se essa produção sobreviveu aos efeitos do tempo ou estou simplesmente sendo traído pela memória afetiva da infância.

FÉRIAS DO BARULHO (Private Resort, 1985)

Dois adolescentes viajam para um resort na Flórida, um local que parece se encaixar nas letras do Kiss, com festas todos os dias contando com um exército de mulheres de biquíni ao som de música caribenha. Um negócio que levaria qualquer muçulmano a confundir o lugar com a Terra Prometida. Claro que os dois vão tentar tudo para conseguirem o maior número de mulheres possível, o que significa qualquer dígito acima de zero. É estúpido, trivial e até meio Chaves em algumas situações, mas é totalmente divertido. Johnny Depp em início de carreira faz o papel de um dos adolescentes, o que é difícil de lembrar, apesar de o SBT repetir o filme no mínimo duas vezes por ano.

OS NERDS SAEM DE FÉRIAS (Revenge Of The Nerds II – Nerds in Paradise, 1987)

Os membros da fraternidade Tri-Lamb são convidados para participarem da Conferência das Fraternidades Unidas, na Flórida. Lá, a comitiva de nerds se depara com seus arqui-inimigos, os Alpha Betas que, auxiliados pelo gerente do hotel, os envia para o Coral Essex, um hotel de zero categoria, um negócio que parece habitado por algumas criaturas do bairro proibido. O filme é o segundo de uma trilogia de vinganças dos nerds, que se unem para lutar contra pegadinhas e humilhações sofridas por outras fraternidades, especialmente a Alpha Beta. Repleto de personagens caricatos que representavam a figura nerd naquela época, essa despretensiosa sequência não faz feio dentre as comédias dos anos oitenta.

SURFISTAS NAZISTAS DEVEM MORRER (Surf Nazis Must Die, 1987)

Bem vindo à Califórnia do futuro, onde as praias são campos de batalha e as ondas são zonas de guerra. Em uma realidade pós-apocalíptica, a costa dos Estados Unidos está repleta de gangues de surfistas neonazistas que trazem de volta o terror do 4º Reich. Mas os bastardos aquáticos cometeram o erro de matar o filho de Mama Washington (Gail Neely), uma negra barra pesada que sozinha resolveria qualquer caso que precisasse de todos os mercenários de Stallone. Essa viagem louca é coisa da Troma, a mesma produtora independente que deu ao mundo filmes como O Vingador Tóxico (The ToxicAvenger, 1984). Lembra os falsos trailers da dobradinha Grindhouse de Tarantino/Rodriguez, só que pior. Confesso que não sei se é possível para uma pessoa normal ir além do trailer, mas dá pra aproveitar a praia.

UM MORTO MUITO LOUCO (Weekend at Bernie’s, 1989)

Quase apenas um filme de férias e diversão, caso o anfitrião não fosse um cadáver. Larry e Richard descobrem uma fraude em apólices de seguro da empresa na qual trabalham e resolvem contar tudo ao chefe, o Bernie (Terry Kisser) do título original. Agradecido, o patrão convida os dois funcionários para um fim de semana em sua mansão na praia. O problema é que ele mesmo era o culpado das fraudes e planejava matar a dupla, mas é assassinado antes por associados desconfiados. Ao encontrarem o patrão morto, os dois resolvem fingir que nada aconteceu e saem arrastando o defunto por toda a costa sem ninguém perceber, mas são perseguidos pelo matador de aluguel que acha que não terminou o serviço. Um Morto Muito Louco é um dos campeões de reprises da Globo na década de 90. O filme se saiu tão bem que ganhou uma sequência em 1993, tão engraçada quanto.

CAÇADORES DE EMOÇÃO (Point Break, 1991)

Não há nenhuma lista de filmes de praia que não tenha Caçadores de Emoção. Se encontrar alguma, ignore-a. Keanu Reeves, em provavelmente seu primeiro papel sério e relevante como protagonista, é o agente do FBI Johnny Utah, com a missão de se infiltrar em uma gangue de surfistas ladrões de banco. O problema é que o cara não entende nada de surf, então vamos lá conhecer os princípios básicos e a filosofia do esporte em um roteiro base do qual Velozes e Furiosos adaptou naquele esquema de “copia, mas não faz igual”. Aqui a direção é de Kathryn Bigelow, diretora que consegue se destacar mesmo nos temas mais comuns. Apesar de ser um filme policial em sua essência, Caçadores de Emoção possui todas as características de um filme de curtição, com muitas ondas, festas e diversão. Quase esquecemos que gente vai morrer.

MERGULHO RADICAL (Into The Blue, 2005)


Uma obra bem semelhante a anterior. Admito que nessa lista não temos assim tantas opções, mas não significa que Mergulho Radical seja exatamente ruim, é apenas descartável ainda que divertido. Paul Walker, agora consagrado herói de ação após dois Velozes e Furiosos, interpreta Jared, um cara normal que gosta de sair com os amigos para mergulhos no oceano em busca de tesouros. Um belo dia de sol no Caribe, o grupo encontra dorgas, muitas dorgas submersas. Jared e sua namorada, Sam (Jessica Alba), entendem que aquele achado iria dar ruim pra todo mundo, mas o casal amigo resolve arriscar e atraem a atenção de um traficante barra pesada. Tudo pronto para mergulhos e perseguições em alto mar. Nada muito emocionante, mas dá pra seguir a maré na sombra. Se Paul Walker estivesse vivo, poderia até ter sido chamado para ser o Aquaman na Liga da Justiça devido a esse filme no currículo.

UM AMOR DE TESOURO (Fool’s Gold, 2008)


Até fazer Killer Joe – Matador de Aluguel (2011), do mestre sombrio William Friedkin, Matthew McConaughey era um ator qualquer nota acostumado a papéis fáceis de protagonista galã em comédias românticas. Aqui ele é exatamente isso, fazendo par romântico de Kate Hudson. O casal está em um navio ancorado na Flórida, empenhado em uma caça a um tesouro espanhol do século XVIII naufragado ninguém sabe exatamente onde, caso contrário o filme não duraria 15 minutos. Diversão fácil, aventura rasa, romance sem peitos e paisagens aquáticas deslumbrantes fazem desse filme uma boa pedida para estimular aquela ida ao litoral.