Há uma lei da magia que diz “jamais se desvie do seu caminho”. A consequência é se perder para sempre. Assim como os contos de fadas originais, algumas leis da magia não passam de alertas, de sabedoria popular, conselhos como “o silêncio vale ouro”. Algumas podem ser encontradas no livro supostamente escrito pelo próprio demônio, visto no filme O Último Portal (The Ninth Gate, 1999). Em Educação temos um conto de fadas atualizado, um tipo de história cruel, sobre uma menininha que sai de seu percurso e encontra o lobo mau. Baseado em livro de memórias da jornalista Lynn Barber, a produção concorreu ao Oscar em três categorias: Melhor Filme, Melhor Atriz e Melhor Roteiro Adaptado.
Na Londres da década de 1960, a adolescente Jenny Mellor (Carey Mulligan) é uma das melhoras alunas da escola. Filha única, é bastante apegada aos pais, possui um pretendente de mesma idade, colega da escola, e está plenamente focada em ser aceita em uma universidade de prestígio. Seu futuro começa a se alterar quando aceita a carona de um estranho em uma tarde chuvosa. David (Peter Sarsgaard) é um homem sofisticado e educado. Ele convida Jenny para ampliar seu universo, seu repertório cultural, a levando para peças de teatro, restaurantes finos e leilões de obras de arte, junto a um casal de amigos, Danny (Dominic Cooper) e Helen (Rosamund Pike). Logo, David conquista até os pais de Jenny, que começam a considerar que um bom casamento pode ser melhor que uma graduação universitária.
Há a sensação de que algo está errado naquele relacionamento inusual entre um homem mais velho e uma adolescente, compartilhada pelo quadro de professores da escola. É como se a felicidade não pudesse ser tão fácil como um príncipe encantado na forma de um homem educado, rico e agradável com todos, se apaixonando perdidamente por uma adolescente que mal conhece a vida fora dos muros da escola e de sua residência. Difícil uma adolescente deslumbrada e curiosa resistir a esses encantamentos. Até mesmo seus pais cedem ao carisma fácil de David. Há uma máxima do kung fu que diz: “Cuidado com os cavalheiros educados, costumam ser os oponentes mais perigosos”.
O filme propõe que o caminho para a independência da mulher passa pela educação. A opção “fácil”, tentadora, é ser sustentada por um mantenedor, fato tratado com normalidade tanto pelo pai quanto pela mãe, uma dona de casa. O caminho da educação é árduo e não garante uma satisfação de vida tão fácil quanto um bom casamento, como atesta uma das professoras de Jenny. É esse o dilema pelo qual a protagonista tem de passar. É como se ela pulasse uma fase de formação da vida, com todos os problemas que um amadurecimento rápido pode acarretar, entrando em uma situação em que nem seus pais, seus protetores naturais, são capazes de emitir um conselho prudente, uma vez que eles são limitados, produtos de uma geração passada. O grande desafio da protagonista é conseguir discernir o que é melhor para a própria vida.
O contraste entre Jenny e a personagem de Rosamund Pike, Helen, um arquétipo de loira burra, reforça a ideia machista da mulher como apenas um acessório do homem. Helen se diverte sorvendo tudo o que o dinheiro pode bancar, sem perceber que vive em uma vida ociosa, submissa. Encantadora, mas extremamente limitada. Educação se traveste de romance quase em sua totalidade, até emergir um drama desesperador capaz de marcar para sempre a vida dos envolvidos.
Educação (An Education, 2009)
Gênero: Romance; Drama
Diretor: Lone Scherfig
Elenco: Carey Mulligan; Peter Sarsgaard; Dominic Cooper; Rosamund Pike
Duração: 1h40min