David Lynch e os diretores que estão fugindo do cinema

O famoso cineasta declarou que não irá mesmo fazer mais nenhum filme. É difícil encontrar diretores atuais que se destaquem por um estilo próprio. Qualquer pessoa minimamente interessada em histórias de mistério, horror e narrativas experimentais certamente já ouviu falar de Lynch, até mesmo os que não gostam de seus trabalhos. O diretor apareceu na cena em 1977 com Eraserhead, uma história surreal que capturou a atenção do público de forma incomum. Desde então, fez obras como O Homem Elefante (1980), Duna (1984) e o sempre citado pelos críticos, Veludo Azul (1986).

Um de seus melhores trabalhos, talvez o melhor para muitos, foi uma série produzida para a rede ABC em 1990,  Twin Peaks. O sucesso levou a um longa e agora ao seu retorno para mais episódios. E foi justamente esse sucesso que o deu a licença que precisava para fazer outros filmes como Cidade dos Sonhos (2001) e Império dos Sonhos (2006). Apesar de seu nome estar nos principais sites sobre cinema por conta do revival em volta de Twin Peaks, o diretor não está mesmo disposto a continuar sua carreira no cinema.

Em entrevista a um jornal australiano, Lynch declarou não ter planos para retornar à direção. Falou que Império dos Sonhos será mesmo seu último trabalho. “As coisas mudaram muito…muitos filmes não vão bem nas bilheterias, até mesmo os que são bons, e os que vão bem são o tipo de coisa que eu não gostaria de fazer.”

As grandes produções mundiais e lançamentos foram monopolizados pela Disney e suas subsidiárias, como a Marvel e a Pixar. Da lista dos 10 filmes que mais arrecadaram nas bilheterias em 2016, apenas dois, Pets: A Vida Secreta dos Bichos e Zootopia, apresentaram roteiros e personagens verdadeiramente originais. Ambas são animações, que não consomem tanto orçamento quanto as produções de estúdio.

Parece estar cada vez mais difícil para um diretor independente conseguir propor algo original ultimamente. Até mesmo diretores de renome precisam ter seus projetos autorais atrelados a viabilidade comercial. Ridley Scott, por exemplo, voltou a explorar o universo de Alien, uma franquia que se manteve comercialmente quente devido à febre da cultura pop e ao festival de prequels, sequels, remakes e revivals que assola indústria. Vale apontar que as produções de Lynch nunca foram exatamente comerciais.

William Friedkin já comentou em uma entrevista que a televisão se tornou um nicho mais criativo que o cinema, onde o fluxo de bons filmes vêm caindo bastante desde trinta anos atrás, especialmente após as produções de super-heróis. O Fato é que, tanto veteranos como Lynch e Friedkin, quanto “novatos” como Nicolas Winding Refn, se voltaram para as séries de TV.

O mercado dos filmes independentes, de onde surgiram nomes como Quentin Tarantino, Robert Rodriguez, Steven Soderbergh, David O. Russel, Kevin Smith e outros da mesma época, na verdade nunca foi fácil, mas parece cada vez mais difícil para os novatos da vez.

Parece que, assim como os grandes nomes do rock, os grandes diretores do cinema também estão saindo de cena e não há uma nova geração surgindo com características próprias suficientes para se tornarem os próximos grandes nomes do cinema. Ou esse cenário talvez seja apenas um efeito natural da mudança dos tempos, enviesado pelo ponto de vista de um velho que repete sem parar que “antigamente era melhor”.