Um Gato de Rua Chamado Bob – A vitória dos rejeitados

Filmes com animais para determinadas gerações remetem a duas classificações: produções para chorar, com animais inocentes vivendo aventuras com seus amigos humanos, ou filmes para se assustar, com todo tipo de bicho assassino, de gatos a jacarés. O primeiro tipo costumava passar na Sessão da Tarde da Globo. O segundo, no Cinema em Casa do SBT. Um Gato de Rua Chamado Bob se encaixa no primeiro caso, mas é um drama dos bons.

James (Luke Treadaway) é mais um mendigo nas ruas de Londres, sobrevivendo de alguns trocados que ganha tocando violão. Para piorar sua situação, ele é viciado em heroína. Após tomar um pico, termina parando no hospital. Sua simpatia pessoal e habilidade musical cativam a Val (Joanne Froggatt), assistente social que resolve continuar apostando na recuperação do sujeito, conseguindo uma moradia social para ele contanto que permaneça em um programa de reabilitação.

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Na primeira noite no novo lar, um gato invade o apartamento em busca de comida. Sabendo o que é passar fome, James alimenta o animal com o pouco que tem, mas depois o devolve à rua. Pouco depois, encontra o gato ferido e mais uma vez o ajuda, sacrificando inclusive o dinheiro que tinha para comer durante o mês. Isso serve de ponte para que ele se aproxime de Betty (Ruta Gedmintas), uma exótica vizinha que possui um trauma relacionado a usuários de drogas. A partir de então, o protagonista tentará se manter limpo enquanto cuida do gato Bob, consegue dinheiro para se sustentar, tenta se reaproximar da família e estreita um possível relacionamento com a garota sem que ela desconfie de sua condição de toxicômano em recuperação.

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O filme é baseado na história real de James Bowen, o sujeito que morou nas ruas e conseguiu superar o vício em heroína graças à companhia e parceria de um gato que ele passou a cuidar e que terminou cuidando dele. James contou sua história em um livro que se tornou best seller. Daí pro filme foi uma passagem natural.

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Bob é um gato atípico. Prostrado nas costas do dono, cruza as ruas de Londres calmamente, atraindo a atenção de todos. Graças à presença do bichano, as gorjetas aumentam durante as apresentações nas ruas e a movimentação que se forma ao seu redor atrai a atenção da imprensa. Porém, como era de se esperar, o percurso de cura de James possui altos e baixos. A presença do exótico animal também atrai pessoas interesseiras e invejosas, que tentam prejudica-lo, pondo em risco seu progresso na reabilitação.

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Um Gato de Rua Chamado Bob é sobre abandono, superação e amadurecimento. Se livrar do vício em heroína exige uma força de vontade enorme. Se você é um morador de rua, rejeitado pela família e sem nenhuma perspectiva imediata de vida, essa tarefa parece quase impossível. A sorte de James, além da paixão pela música, foi ironicamente ter alguém para cuidar. Um sujeito abandonado que não conseguia cuidar de si mesmo encontrou forças e incentivo para escapar de uma morte lenta cuidando de um animal também abandonado.

A primeira coisa que se pensa ao gravar com felinos é o quanto é difícil fazer o bichano se comportarem em frente às câmeras. Foram selecionados vários gatos para o filme, mas terminou que o próprio Bob interpretou ele mesmo na maioria das cenas. Fazer um filme com participação de um animal também é jogar no fácil em termos de manipular o emocional da audiência. Claro que haverá momentos em que alguma situação apresentada levará os mais sensíveis às lágrimas. Aliás, o diretor Roger Spottiswoode é um veterano na indústria, tendo trabalhado em diversos gêneros, da comédia à ficção científica, incluindo experiência com animais.

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No mais, como o poster deixa claro, apesar do tema dramático e densidade das situações que o protagonista tem de enfrentar, se trata de um filme catártico, no qual é possível chegar ao final com um grande sorriso de alívio. Não é apenas mais um filme de animais típico da Sessão da Tarde, mas uma incrível história real sobre um homem que escapou de um destino negro graças a uma pessoa que acreditou nele, no caso a assistente social, e a um exótico felino que deixa provado o quanto esses animais podem ser importantes na vida de alguém.

Também vale ressaltar a atenção do Estado para o problema do vício, fornecendo acompanhamento psicológico, medicamentos e abrigo para aqueles dispostos e tentar superar a dependência química, apesar de o filme deixar claro que tais serviços são limitados em termos de recursos financeiros. Não é uma história pretenciosa. Ao contrário, temos um conto simples e sincero, o que só o torna mais ainda uma obra agradável.

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Um Gato de Rua Chamado Bob (A Street Cat Named Bob, 2016)
Gênero: Drama
Diretor: Roger Spottiswoode
Elenco: Luke Treadaway; Bob; Ruta Gedmintas
Duração: 1h43min