MaXXXine – Hollywood, sangue pela fama

Chegamos à metade da década de 1980, onde encontramos Maxine Minx (Mia Goth), agora uma famosa atriz de filmes adultos, morando em Los Angeles. Obstinada a seguir seu sonho rumo ao verdadeiro estrelato, ela consegue o papel de protagonista em um filme de terror.

O problema é que surge um detetive particular em sua cola (Kevin Bacon), contratado por uma figura misteriosa que conhece o passado da garota. Além disso, um serial killer chamado pela imprensa de Night Stalker está à solta assassinando mulheres na cidade, incluindo vítimas diretamente ligadas à Maxine, a colocando no radar de investigação de uma dupla de policiais (Michelle Monaghan e Bobby Cannavale).

O diretor e roteirista Ti West construiu uma carreira ligada principalmente ao terror e a ficção científica. Foi a partir de X — A Marca da Morte (X, 2022), uma produção com selo da A24, que seu nome ganhou maior projeção, assim com a atriz Mia Goth, que na ocasião interpretou dois papéis no mesmo filme. 

No mesmo ano, foi produzido Pearl, uma sequência relatando acontecimentos anteriores à X, tendo uma das personagens de Mia Goth como protagonista. A ótima aceitação do filme confirmou a vinda de MaXXXine, formando uma trilogia slasher, um fato inédito para a A24.

Havia muita expectativa sobre este último lançamento e, julgando pelos resultados de bilheteria, MaXXXine foi um sucesso. A arrecadação global foi praticamente o dobro da dos filmes anteriores. O sucesso financeiro da obra, porém, foi acompanhado por uma certa insatisfação por parte de fãs e críticos. Entre outros pontos, Ti West foi acusado de ter sido pudico demais, o que, comparando com os filmes anteriores, é verdade. 

O caso é que a Los Angeles dos excessos em 1985 foi mesmo desperdiçada, olhando em retrospecto o que foi apresentado nos outros capítulos. Se havia uma inspiração declarada em Hardcore — No Submundo do Sexo (Hardcore, 1979), não ficou refletida em MaXXXine, cujo resultado geral parece mais uma mistura de Dublê de Corpo (Body Double, 1984) com Máquina Mortífera (Lethal Weapow, 1987) e uma pontada da tosquice de Anjo: Inocência e Pecado (Angel, 1984). Na somatória geral de todas as suas qualidades e defeitos, adianto que achei MaXXXine bem superior aos anteriores. 

A reconstrução da época é um dos pontos fortes do filme. A fotografia e o design de produção do longa reconstroem uma década de 1980 de modo hipnótico, repleto de referências cinematográficas, históricas e sonoras. Ti West apresenta em cada frame sua paixão pelo cinema, deixando várias citações espalhadas nos cenários e nos personagens, isso incluso até uma videolocadora, para o delírio dos nostálgicos.

Na história, Maxine Minx, após 6 anos dos eventos apresentados em X: A Marca da Morte, está totalmente adaptada a Los Angeles, especialmente na parte barra pesada da cidade. Ela é uma mulher que se orgulha de sua carreira na indústria pornô, sendo até reconhecida por fãs nas ruas. 

A chance de finalmente chegar à verdadeira Hollywood surge por meio de um papel na sequência de um filme de terror duvidoso. Se tornar uma Scream Queen é um passo nessa direção, já feito por outras atrizes em início de carreira, tal como Jamie Lee Curtis em Halloween (1978) e Jennifer Aniston em O Duende (Leprechaum, 1992)

Maxine é posta como uma anti-heroína, um ícone da mulher moderna, fatal, capaz de se virar contra predadores sexuais, chantagistas e assassinos. Ela desenvolveu um instinto de sobrevivência que têm na violência um recurso agora natural, ainda que em alguns momentos deixe revelar resquícios de insegurança, que são superadas pelo uso de cocaína, a droga do poder. 

A Los Angeles retratada no filme é uma cidade de predadores, às vezes literalmente, como no caso do Night Stalker, serial killer que realmente aterrorizou a cidade na época, deixando em alguns locais de crime marcas de pentagrama, alimentando ainda mais um fenômeno batizado de “satanic panic”, também insuflada pela época de maior popularidade do heavy metal. A sociedade organizada contra-atacou na forma de um comitê de censura chamado Parents Music Resource Center, capitaneadopor Tipper Gore, esposa de um senador. 

O universo de Hollywood também é retratado como hostil, onde a fraqueza não é perdoada e falhar não é uma opção. O agente de Maxine, vivido por Giancarlo Esposito de peruca, é capaz de qualquer coisa pelos seus promissores clientes, uma espécie de demônio que assina contratos ao custo do sangue de qualquer um, responsável talvez pela cena mais violenta e tensa do longa. 

Por sinal, se West deixou de lado a nudez e o sexo neste capítulo da trilogia, continuou focado na violência gráfica. Fica evidente o toque do giallo italiano em algumas cenas, em alguns momentos até conduzidas quase que com uma elegância a la Brian DePalma. 

Mas é na sequência final que o diretor parece chutar a cadeira, transformando tudo em um pastelão exploitation nível Golan-Globus produções que provoca esboços de riso. O nível cai bastante mas, mesmo assim, as boas impressões construídas até ali conseguem obter um perdão do espectador menos exigente. 

Cenas Destacadas:

Sozinha em uma rua escura: Maxine é perseguida e encurralada em um beco sem saída por um homem fantasiado de Buster Keaton. Além da homenagem óbvia a uma estrela da antiga Hollywood, Ti West reafirma que sua protagonista não é uma mulher indefesa. 

Contra-ataque: Após ser perseguida várias vezes por um detetive particular, Maxine decide resolver de vez a pendência, planejando um contra-ataque definitivo com a ajuda de seu agente. Para garantir uma chance em Hollywood, vale tudo. 

Hollywood sob Hollywood: Sacando de mais um dos clichês intencionais do longa, os eventos se desenrolam até o famoso letreiro de Hollywood, onde uma conspiração é desvendada. 

MaXXXine (2024)
Direção: Ti West
Gênero: terror
Elenco: Mia Goth, Kevin Bacon, Giancarlo Esposito
Duração: 1h43min