Um assassino imparável ressurge de sua cova e começa a matar quem encontra pelo caminho. Basicamente, essa linha é suficiente como a sinopse de In a Violent Nature, um slasher que, embora não apresente exatamente nenhuma novidade, conseguiu chamar a atenção dos fãs do terror.
Apontado como uma homenagem à franquia Sexta-Feira 13, se não inovou de modo algum na essência da história, um assassino imortal, silencioso e implacável, o filme recorre à linguagem cinematográfica para oferecer algo diferente ao público. Atingiu o objetivo, mas também, mesmo por isso, saiu prejudicado.
A câmera durante quase a totalidade do tempo de projeção se posiciona atrás do assassino, transformando o filme quase em um found footage. Acompanhamos a ação acompanhando o passo a passo do monstro. Isso permite que vejamos suas estratégias para chegar a suas vítimas, sendo furtivo, malicioso, denotando não inteligência, mas um instinto resquício de sua outrora humanidade.
Mesmo que não fale nada, entendemos qual a sua motivação para matar as pessoas: recuperar algo que o pertence e que foi retirado de seu mausoléu, fato mostrado nas primeiras cenas.
Os efeitos práticos são um dos pontos altos do longa, que oferece uma lista de cenas gore, compondo um banquete de barbaridades sendo feitas com corpos humanos. O problema é que as vítimas são personagens desconhecidos para o espectador. Por essa razão, a sensação é de que estamos acompanhando um gameplay qualquer.
A dinâmica se transforma levemente quando surge um guarda florestal que sabe o que está acontecendo, porém, mais uma vez o clichê das pessoas tomando decisões burras em filmes de terror atrapalha a imersão e aproxima In a Violent Nature do padrão do gênero.
Apesar de sua curta duração, das sequências criativas e bárbaras de assassinatos, o filme se torna cansativo rapidamente. Um dos pontos negativos é insistir em mostrar o assassino caminhando pela floresta por mais tempo do que seria necessário. Isso estica a película mas revela a falta de um roteiro mais consistente, revelando um artifício que parece apenas utilizado para preencher o tempo de tela. A falta de uma trilha sonora também contribui para a sensação de tempo estático, de repetição de acontecimentos, de marasmo.
O aspecto de morto vivo do assassino, repulsivo, putrefato, ficou excelente, e o incremento de uma antiga máscara de bombeiro o torna um possível candidato a ingressar na seleta galeria de grandes monstros do cinema de terror. O tempo vai revelar se, de fato, é tão memorável assim.
Apesar da imitação dos conceitos básicos de Jason Voorhees, o assassino imortal de In a Violent Nature é ancorado por uma mitologia própria e interessante, que pode ser expandida em próximas sequências.
Mesmo que, se ao final da produção, o espectador ficar em dúvida sobre o que assistiu, se o agradou ou não, ainda assim vai guardar em sua memória ao menos um par de cenas chocantes.
O cenário da ação é uma região rural (foi filmado em Otário, Canadá), onde encontramos espécies de fazendas isoladas, madeireiras e áreas de camping, que fornece a maior parte das vítimas para o assassino.
A obra é criação do canadense Chris Nash, que ficou a cargo do roteiro e direção. A razão de aspecto, o formato da tela, é 4:3. Para quem não está familiarizado, é o antigo formato das tvs de tubo. A motivação para essa opção, disse Nash em entrevista ao site Point of Views, é que queria reproduzir o mesmo formato de quando viu pela primeira vez Sexta Feira 13, quando criança.
Cerca de 70% do filme teve de ser refeito. O ator que interpretava Johnny, o assassino, teve problemas médicos e o diretor de fotografia também saiu, assumindo em seu lugar Pierce Derks, que usou novas câmeras, resultando em um trabalho diferente do que já havia sido gravado até então, forçando as refilmagens.
Se seguiram então 4 semanas de gravações com um ator diferente. Mesmo com alguém com o mesmo tipo físico do ator anterior, ainda restaria questões como a maneira diferente de se movimentarem.
In a Violent Nature, junto a O Mal que nos Habita e a Entrevista com o Demônio, forma uma trinca de produções impactantes do streaming especializado em horror Shudder.
A obra certamente vai satisfazer e inspirar fãs e músicos de death metal de bandas como Cannibal Corpse, Carcass e Autopsy.
Cenas destacadas:
Instinto: O assassino chega em uma casa isolada. Ele espera o Xerife ir embora e, como um predador, se oculta até conseguir pegar sua presa de surpresa, quando está sozinha.
Total brutalidade: Johnny encontra uma garota fazendo exercícios em frente a um penhasco. Ele chega silenciosamente por trás dela e então temos uma das cenas mais brutais do longa. A sequência viralizou nas redes sociais, chamando a atenção para o filme.
A serraria: Após capturar mais uma vítima, o monstro o arrasta para uma serraria, onde começa a cortar partes do corpo, com o homem ainda acordado. A frieza total que demonstra enquanto despedaça um corpo humano é arrepiante.
In a Violente Nature (2024)
Gênero: terror;
Direção: Chris Nash;
Elenco: Ry Barret; Andrea Pavlovic; Reece Presley;
Duração: 1h34min