Como Falar com Garotas em Festas – Punk é a melhor coisa que aconteceu para gente feia

Uma combinação de elementos que qualquer um diria impossíveis de serem misturados em uma mesma produção sem criar mais um nome para as listas dos piores filmes do mundo. Esse é o tipo de filme que, quanto menos você souber sobre ele, mais divertida é a experiência cinematográfica, mas se ainda assim quiser informações prévias a respeito, siga em frente.

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Como falar com garotas em festas se passa na Inglaterra da década de 1970, época na qual o rock progressivo de bandas como Yes e Pink Floyd encheu o saco de todo mundo, especialmente dos jovens, que queriam a energia alucinante produzida por acordes simples e velozes acompanhados por vozes estridentes urrando letras explosivas. Era a vez dos Sex Pistols, The Damned, The Clash e afins.

Nesse contexto, conhecemos Enn (Alex Sharp), John (Ethan Lawrence) e Vic (Abraham Lewis), três adolescentes que estão vivendo o auge do estilo musical que adoram. Andam no visual, são fanáticos pelas bandas e frequentam os shows da cena local. Ainda assim são tímidos, inseguros e escanteados até no meio deles.

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Após um show produzido pela mandachuva da cena local, uma malucona que se chama Boadicea (Nicole Kidman), o trio tenta encontrar o endereço da after-party exclusiva que aconteceria. Acabam entrando por engano em uma espécie de mansão onde parece estar acontecendo uma apresentação de festival de inverno misturado com ópera futurista embebida em lsd misturado com alguma droga nova que nem deu pra comercializar ainda. Ou seja, nada louco demais para quem é punk.

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O grupo vai se espalhando pelos cômodos, observando e interagindo com quem encontra. Vic pensa que se dá bem com um grupo comandando por Stella (Ruth Wilson). Enn conhece Zan (Elle Fanning) e surge uma atração mútua entre eles. Em um momento em que se questionava sobre sua vida, ela se interessa pelo tal conceito de “punk” e resolve dar uma fugida autorizada com o cara para conhecer Londres e mais daquela onda de moicanos e cabelos espetados. John fica no porco dançando aleatoriamente.

É então que Zan vai aprender o que é ser um adolescente em Londres, conhecendo a cena musical e conhecendo mais ainda Enn. O caso é que o tempo dela está acabando e seus companheiros de viagem querem que ela parta imediatamente ou vai acontecer alguma tragédia.

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Como Falar com Garotas em Festas é uma comédia de romance juvenil com toques de Shakespeare e inserções de ficção científica lisérgica. Isso fica claro rapidamente, não é nenhuma revelação bombástica de final de filme. Zan e sua turma são viajantes espaciais de qual diabo de galáxia sabe-se lá, em uma espécie de excursão cósmica em conjunto com várias raças diferentes de alienígenas. Aí rolam piadas de situações do cotidiano, como comer, cagar e beijar e confusões com a linguagem. O traumatizante intercalço sexual pelo qual Vic passa nas várias mãos das Stellas, uma das colônias alienígenas, é uma das situações mais cômicas do filme. Zan vomitando na boca de Enn, também.

Interessante que o visual punk transforma as pessoas praticamente em alienígenas para a sociedade, especialmente na época em que se passa o filme, quando não precisava de muita coisa para chocar os bons costumes. Aqui, a turma de Enn é encarada pelos demais exatamente como uma das colônias aliens. Como a Ruth Wilson (de séries como The Affair e Luther) é a líder da colônia das Stellas, a quase irreconhecível Nicole Kidman poderia muito bem se passar como líder da colônia dos punks. Por isso que, a princípio, os garotos encaram com certa naturalidade a esquisitice de quem eles acreditam serem apenas turistas excêntricos.

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O diretor John Cameron Mitchell tem mais experiência em curtas e séries para televisão. Esse foi apenas seu terceiro longa metragem. Imprimiu um ritmo de videoclipe nas cenas iniciais, com uso de câmera lenta com efeitos que até chateiam um pouco, rolando música punk de fundo. As filmagens também foram realizadas em ritmo de punk rock: duraram apenas 30 dias.

A história é baseada em um conto escrito por Neil Gaiman, cuja obra mais famosa é a série de histórias em quadrinhos do Sandman. O conto foi adaptado em uma HQ produzida pelos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá. Aqui foi lançada pela editora Companhia das Letras, pelo selo Quadrinhos na Cia.

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O resultado final é um filme estranhíssimo em termos de estética e enredo, com a alternância de cores saturadas contrastando com o cinza sem vida de Londres, lembrando que praticamente cada colônia alienígena possui uma cor padrão, e também o contrastes das cenas urbanas com uns insertes de visões espaciais. A ideologia punk com abordagem mais séria fica para filmes como o recente Bomb City, de 2017, com uma galera mais adulta e trama voltada para situações de intolerância que descambam para a violência física. Neste, a abordagem é restrita àquela fase da descoberta e do fascínio, da curtição da música em si, ainda que transmita a mensagem de que punk é liberdade, em contraste com o mundo de Zan, cheio de regras e normas.

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No final, todo mundo se submete de alguma forma ao sistema, como acontece com o casal protagonista. O filme é apenas uma tremenda bobagem que mistura punk com ficção científica e romance adolescente barato, mas divertido e bem menos ridículo que muito blockbuster.

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Como Falar Com Garotas em Festas (How to Talk to Girls at Parties, 2017)
Diretor: John Cameron Mitchell
Gênero: Comédia; Romance; Ficção Científica
Duração: 1h42min